sábado, 13 de junho de 2009

Jack London

Se Jack London foi um dos maiores, mais influentes e mais prolíficos escritores norte-americanos mesmo vivendo apenas 40 anos, deve-se a isso à sua fantástica história de vida. John Griffith Chaney nasceu no dia 12 de janeiro de 1876 e teve uma vida marcada por acidentes e fatos incríveis e soube reproduzi-las perfeitamente em seus inúmeros escritos. Não é à toa que London é um dos grandes ídolos de outro mito norte-americano da literatura, Jack Kerouac.

A vida de London é marcada de mistérios e dúvidas. A primeira dela é sobre seu pai. Até hoje seus biógrafos brigam para determinar quem é o verdadeiro pai de London. Apesar de ter o sobrenome de William Chaney, um dos mais renomados astrólogos da época, há fortes indícios de que ele não seja seu pai, de fato. Tudo por causa de uma suposta carta que o próprio William teria enviado ao jovem Jack, em 1897, dizendo que não poderia ser seu pai por ser "impotente" enquanto viveu com a mãe do escritor, Flora Wellman. E com o grande terremoto que assolou a cidade no ano de 1906, boa parte dos documentos da cidade foram destruídos e a dúvida ainda permanece. Assim, como há a dúvida se Jack foi realmente registrado com tal nome. Mas, segundo o biógrafo oficial de London, Clarice Stasz, antes de morrer Chaney se referia a Flora como sua esposa (se casaram ou não é uma outra dúvida igualmente jamais esclarecida) e dizia que ela própria se considerava "Florence Wellman Chaney".

Apesar disso, Jack sempre se mostrou uma criança independente, inteligente e curiosa, apesar da vida difícil em Oakland, cidade próxima a San Francisco. Jack praticamente se auto-educou e descobriu a paixão pela leitura após ler o romance Signa, de Ouida (pseudônimo da escritora vitoriana inglesa Maria Louise Ramé, ou Maria Louise de la Ramée, como preferia ser chamada). Segundo Jack, foi esse livro que o fez sonhar em ser escritor.

Após se formar na escola de gramática em 1889, Jack começou a trabalhar em uma fábrica de conservas em uma jornada desumana, que durava de 12 até 18 horas diárias. Desesperado para fugir dessa situação, Jack conseguiu um dinheiro emprestado com sua mãe negra de criação, Jennie Prentiss, e comprou um barco de um pescador de ostras chamado French Frank e começou a viver das ostras. Após acusar a amante de French Fark, Mamie, de tê-lo roubado e ter perdido seu barco, Jack mudou de lado e foi trabalhar como patrulheiro de pesca da Califórnia.

Em 1893, ele desistiu de tudo e foi viajar para o Japão como marinheiro e quando voltou à América viu o país em uma de suas maiores crises econômicas. Acabou aceitando um de seus piores trabalhos, em um fábrica de juta, e também em estradas-de-ferro. A terrível época na fábrica de juta - dez horas por dia a dez cents a hora durante oito meses - seria retratado no conto The Apostate (O Herege), de 1906 e que foi usado na luta para a abolição do trabalho infantil nos Estados Unidos. Depois disso, desistiu e foi viver como vagabundo. Por causa disso, pegou 30 dias de cadeia em Buffalo. Inspirado nisso escreveu os contos Pinched (Na Gaiola) e The Pen (A Prisão).

Tanto a luta na fábrica de juta como a experiência na prisão está relatada no livro De Vagões e Vagabundos, uma antologia compilada por Alberto Alexandre Martins, lançada no Brasil, pela editora L&PM.

Após conhecer Ina Coolbrith, uma das mais importantes poetisas de San Francisco, na biblioteca de Oakland, resolveu terminar os estudos entrando na Oakland High School, onde começou a publicar vários artigos na revista The Aegis. Sua primeira estória foi Typhoon off the coast of Japan, onde conta suas experiências como marinheiro na Ásia. Esse conto acabaria inscrito publicado no San Francisco Morning Call, com Jack recebendo 25 dólares e aliviando sua difícil situação financeira.

London tentou desesperadamente ir para a Universidade da Califórnia e conseguiu em 1896, mas teve que deixá-la no ano seguinte por falta de dinheiro. Com isso, ele jamais se formou e, segundo seus biógrafos, London não publicou escrito algum nesse período.

Quando os estudos fracassaram, Jack e seu cunhado, James Shepard, resolveram aderir à febre da corrida do ouro, no Klondike (Alasca), que seria palco de vários romances seus. Mas London jamais ficou rico e ainda deteriorou consideravelmente sua saúde com a vida insalubre de garimpeiro. Foi ali que contraiu escoburto, perdendo os quatro dentes da frente de sua boca, além de terríveis dores em seu abdome e em suas pernas. Mas graças ao padre William Judge, o "Santo de Dawson", London pôde se recuperar. Por uma ironia da vida, o ateu London havia sido salvo por um padre jesuíta.

Depois disso, ele conheceu o poeta George Sterling. Fizeram uma grande amizade e ele ajudou Jack a encontrar uma casa nos Piemontes. Jack o chamava carinhosamente de "Grego" e o retratou na novela Martin Eden (1909), na pele do personagem de Russ Brissenden e como Mark Hall na novela The Valley of the Moon (1913).

London acabou se tornando um socialista convicto, e lutava contra a febre capitalista que varria a América. Ironicamente, London começou a fazer muito dinheiro publicando suas fantásticas histórias em revistas de baixo custo, tornando-se um verdadeiro sucesso. Em 1900 ganhou 2000 dólares - cerca de 80 mil nos dias de hoje - tornando-se um grande nome. Anos depois, London disse que "literalmente a literatura salvou minha vida".

Em 1901 concorreu ao cargo de prefeito em Oakland, recebendo 245 votos. Em 1902 publica To Build a Fire. Em 1903 fez ainda mais sucesso com o livro Um Chamado da Floresta, contando a história de um cachorro Buck, que é roubado de sua vida doméstica na Califórnia e enviado para o Alasca, para trabalhar. London faz um comovente e brilhante perfil psicológico do animal e da vida humana pelos olhos de um cão. Em 1904 publica uma de suas mais famosas e clássicas histórias, O Lobo do Mar, que conta à história de um brutal comandante de navio, Lobo Larson. Inspirado nas idéias de Karl Marx, Charles Darwin e Nietzsche, London compõe um romance de imenso fundo psicológico.

Paralelamente ao sucesso, London se casou no dia 7 de abirl de 1900 com Bess Maddern, com quem teve uma vida atribulada e confusa. Bess foi retratada como uma criatura má, imoral e vingativa, embora muitos assegurem que ela tenha sido uma ótima esposa e colaboradora, trabalhando muitas vezes como revisora de seus escritos.

Com ela, Jack teve duas filhas - Joan (nascida em 15 de janeiro de 1901 e Bessie (nascida em 20 de outubro de 1902). Jack a deixou no dia 24 de julho de 1903 e no ano seguinte negociaram os termos do divórcio. Depois disso, Jack voltaria a se casar, com Charmian London, com viveria até sua morte).

Jack ainda se viu envolvido em acusações de plágio durante sua carreira e até de racismo, mas nada disso conseguiu ofuscar seu brilho, que ainda tentou, mais uma vez, ser prefeito em Oakland, em 1905, recebendo desta 981 votos.

E, como tudo em sua vida, a morte de London é cercada de mistérios. Embora descrita como suicídio, muitos acreditam que foi apenas um terrível incidente. Extremamente debilitado fisicamente desde os tempos de Klondike, London havia contraído uma uremia, que lhe causava dores insuportáveis. Como forma de alívio, London fazia uso de morfina e muitos acreditam que, acidentalmente, tenha tomado uma dose maior do que estava acostumado. Jack London foi encontrado morto no dia 22 de novembro de 1916, com 40 anos. Há ainda quem acredite que London se suicidou, já que ele tratou do tema em vários escritos.

O corpo de Jack London foi cremado e hoje suas cinzas repousam ao lado de sua esposa Charmian, no Jack London State Historic Park, em Glen Ellen, Califórnia. Consta que deixou uma biblioteca particular monstruosa, com aproximadamente 15 mil títulos.

Alcoólatra assumido (escreveu um belo texto sobre sua dependência, John Barleycorn, usado até hoje pelos Alcoólicos Anônimos como modelo) e mulherengo, Jack London foi um dos mais espetaculares romancistas e novelistas de todos os tempos e colocado ao lado do poeta Walt Withman por sua luta contra o capitalismo, a paixão pelo socialismo e pelas causas sociais. É dono de uma extensa obra, largamente adaptada para o cinema e teatro. London foi fonte direta de inspiração para os escritores beat. Afinal, 50 anos de Kerouac, Ginsberg e demais, London já tinha feito toda as viagens e acumulado todas as experiências possíveis a um homem.
Romances

A Daughter of the Snows (1902) *(A Filha da Neve)
Children of the Frost (1902)
The Call of the Wild (1903) *(O Chamado da Montanha)
The Kempton-Wace Letters (1903, co-autoria com Anna Strunsky)
The Sea-Wolf (1904)*(O Lobo do Mar)
The Game (1905)
White Fang (1906) *(Caninos Brancos)
Before Adam (1907)
The Iron Heel (1908) * (O Tacão de Ferro)
Martin Eden (1909) *(Martin Eden)
Burning Daylight (1910)
Adventure (1911) *(A Aventureira)
Smoke Bellew (1912)
The Scarlet Plague (1912) *(A Praga Escarlate)
The Abysmal Brute (1913)
The Valley of the Moon (1913)
The Mutiny of the Elsinore (1914)
The Star Rover (1915) (published in England under the title "The Jacket") * (O Andarilho das Estrelas)
The Little Lady of the Big House (1916)
The Turtles of Tasman (1916)
Jerry of the Islands (1917)
Michael, Brother of Jerry (1917)
Hearts of Three (1920) (romance feito em cima de um script de cinema de Charles Goddard)
The Assassination Bureau, Ltd (1963) (inacabada e completeda por Robert Fish

Memórias autobiográficas

The Road (1907)
John Barleycorn (1913)

Ensaios

The People of the Abyss (1903) *(O Povo do Abismo - Fome e Miséria no Coração do Império)
Revolution, and other Essays (1910)
How I became a socialist (contido em De Vagões e Vagaundos)

Contos

"Diable-A Dog"
"An Odyssey of the North"
"To the Man on Trail"
"To Build a Fire"
"The Law of Life"
"Moon-Face"
"The Leopard Man's Story" (1903)
"Love of Life"
"All Gold Canyon"
"The Apostate" (contido em De Vagões e Vagabundos)
"To Build a Fire"
"The Chinago"
"A Piece of Steak"
"Good-by, Jack"
"Samuel"
"Told in the Drooling Ward"
"The Mexican"
"The Red One"
"The White Silence"
"The Madness of John Harned"
"A Thousand Deaths"
"The Rejuvenation of Major Rathbone"
"Even unto Death"
"A Relic of the Pliocene"
"The Shadow and the Flash"
"The Enemy of All the World"
"A Curious Fragment"
"Goliah"
"The Unparalled Invasion"
"When the World was Young"
"The Strength of the Strong"
"War"
"The Scarlet Plague"
"The Red One"

Teatro

The Acorn Planter: a California Forest Play (1916)

Mais uma de Morrissey



Há certas músicas que não ouvimos há muitos e muitos anos, e de repente, na noite e no local mais improvável, ouve-se uma... e toca-nos.
Everyday Like is Sunday (Letra)

Trudging slowly over wet sand

Back to the bench where your clothes were stolen

This is the coastal town


That they forgot to close down


Armageddon -

come Armageddon!

Come, Armageddon!

Come!


Everyday is like Sunday

Everyday is silent and grey

Hide on the promenade

Etch a postcard :"How I Dearly Wish I Was Not Here"In the seaside town...that they forgot to bomb


Come, Come, Come - nuclear bomb

Everyday is like Sunday


Everyday is silent and grey

Trudging back over pebbles and sandAnd a strange dust lands on your hands


(And on your face...)

(On your face ...)

(On your face ...)

(On your face ...)

Everyday is like Sunday

"Win Yourself A Cheap Tray"

Share some greased tea with meEveryday is silent and grey

O que há entre a escrita de Charles Bukowski e a arte de Robert Crumb?

Es tan fácil ser poeta y tan difícil ser hombre. (Charles Bukowski)

Traço sujo. Detalhes em exagero: tipo, azeitona que apodrece sobre o mofo do que um dia foi um drinque. Isso é Crumb, para mim, bien sûr. Para mim, que leio Bukowski e me babo pela maneira simples, direta, dura, podre no sentido sincero do coração de um homem - apenas um homem.

Isso faz lembrar que este mesmo homem, o Buk, velho Buk, foi encontrado [por si mesmo] sobre uma lata de lixo, todo vomitado, um rato passeando sobre a perna, numa clássica manhã de ressaca.

Buk: Parte da geração beatnik, mas à parte: ele, o eterno marginal.

O Charles "Hank" Bukowski era alemão: nasceu em Adernach e o pai era americano, primeiro sargento. A mãe, alemã. Diz que o pai era muito feio. Aos três anos, mudou-se com a família para os EUA, para o East Holywood, condomínio moquifento de baixa renda, periferia de Los Angeles. Ali conheceu a miséria. Abusos do pai, alcoólatra. Depois de terminar o segundo grau, estudou jornalismo durante algum tempo no L.A. City College, mas abandonou o curso em 1941, antes de conseguir qualquer graduação. Escolheu a vida bêbada e itinerante, pulando de um emprego para o outro. Em 1956, resolveu dar um tempo: aceitou trabalhar nos correios, lugar que serviu de inspiração para o seu primeiro livro de prosa, "Cartas na Rua" (1971). Mas Bukowski foi também um puta poeta, e publicou diversos livros de poesia. Olha só:

<< Play the piano drunk like a percussion instrument
until the fingers begin to bleed a bit 40,000 Moscas>>

Separados por uma tormenta passageira nos juntamos novamente. Buscamos rachaduras em paredes e tetos e as eternas aranhas. Me pergunto se haverá uma mulher mais. Agora 40,000 moscas encontram os braços de minha alma cantando: "I met a million dollar baby in 5 and 10 cent store" Braços de minha alma? moscas? cantando? que classe de merda é esta? É tão fácil ser poeta e tão difícil ser homem."

Homem de vícios, esse Buk. No traço de Crumb, sua cara de ressaca fica ainda pior, as bitucas de cigarro quase exalam seu fedor.

Os vícios: corridas de cavalos, Jack Daniel's, cerveja, cigarros e mulheres, mais ou menos na ordem em que aparecessem em sua frente. Apesar de estar bêbado em praticamente quase todos os momentos de sua vida, foi um homem tão lúcido quanto pode sê-lo um escritor americano que manda às favas o sistema, foi insano em maneiras de viver a vida, tragá-la como um gole de uísque, até a última gota.

Mesmo com a fama já fazendo-lhe calos à imagem, "Hank" não abriu mão dos caprichos, não deixou de freqüentar os botecos, de ir ao cinema ou de resmungar ao amarrar os sapatos pela manhã; não abriu mão de seu amor aos gatos, às boas coisas que o dinheiro traz e que leva embora sem dar satisfação; mas, principalmente, não abriu mão nunca de escrever: como respirar, dormir, comer. Escreveu feito um faminto ensandecido diante de um carneiro assado se atira à refeição, escreveu sempre, enquanto esteve com os olhos abertos.

<<>> (C. B.)

Na medula, sem floreios ou eufemismos: as mulheres de bundas e peitos rechonchudos, como se estourando de leite, ar vulgar, a boca aberta num sorriso sacana - isso fecha perfeito com o traço das idéias do velho safado. Quem é quem? Não posso lembrar de Buk sem trazer junto Robert Crumb, ou o contrário. Se o mundo bizarro das corridas de cavalos, da noite de Nova York, ou do cotidiano simples de uma mente inquieta, se todo esse material precisou dos dedos e da imaginação de Buk para existir para todos nós, Crumb cristalizou a nanquim a imagem do escritor.

Não conheço as mulheres de Crumb, o imaginário desse artista além-Buk. Uno ambos como se um sem o outro fosse um corpo sem braço. Ou como uma história do próprio Charles Bukowski sem um palavrão.