Jean Louis Lebris de Kerouac viveu 47 anos. Morreu em 1969, depois de escrever 23 livros. Apesar de católico fervoroso, educado em colégio jesuíta, tímido e introspectivo, generoso e angelical, até os seis anos só falava o 'joual', um dialeto franco-canadense. Entre 9 e 27 de abril de 1951, escreveu a primeira versão de um livro famoso: 'On the road', conhecido também por 'Pé na Estrada'. Publicado seis anos depois, o livro se tornou um mito, a 'Bíblia da Geração Beat'. Jack tentou inúmeras vezes explicar o termo beat. Dava voltas e voltas para a irritação dos jornalistas, críticos e entrevistadores. A dificuldade de explicar o que era beat esbarrava em duas circunstâncias: Jack era francês e adorava as vogais - numa terra repleta de consoantes; seu beat, por outro lado, tinha correlações com o ritmo musical, o sentido de uma batida ou golpe, uma exaustação de fundo de poço, uma excitação de batidas de coração, cadência de verso, trajeto, trilha, furo jornalístico, pilantragem e até mesmo o 'beat the way', o 'botar o pé na estrada', muito usado por outro Jack, o London.
Disse certa vez que não conhecia nenhum hippie; dizia que era um católico místico e louco, flertava com o zen budismo e os peregrinos religiosos, como São João da Cruz e Santa Teresa. Bob Dylan decidiu fugir de casa após a leitura de 'On the road' - e como o filho, Jakob Dylan, posou ao lado do túmulo de Jack, num espaço de vinte anos. Nas crônicas de Dylan, há a confissão de que também nada tinha a ver com o movimento hippie. Quando se refugiou em seu rancho, Dylan tinha vontade de atirar naquele bando de cabeludos folgados que peregrinavam até sua casa. Tanto Dylan como Kerouac atingiram o reconhecimento após uma crítica do NY Times. Já a revista Time, acusou o livro de Kerouac de incitar a explosão de vadiagem em violência de jovens, que, de uma hora para outra, em todos os cantos dos EUA, agrupavam-se em bares, em torno de jukeboxes, pilantragem e drogas, para fazer arruaças nas madrugadas.
Para entender Kerouac e os beats é preciso estar atento à 'beatitude', ou seja, a atitude de um beato frente à vida. Sua veia literária não é nova, pois segue uma visão do divino na natureza e na saga dos homens em busca da terra prometida. No caso americano, de Nova Iorque para São Francisco e Los Angeles, através de uma linha vermelha conhecida por Rota 6 - que se une à Rota 66 e pode se transformar, simbolicamente, na 'Rota 666'. Foi o que aconteceu com Jack: seguindo a rota do sol poente, influenciado por Walt Whitman, Thomas Wolfe e William Saroyan (enquanto a América ainda estava sob a influência do ritmo seco e telegráfico de Ernest Hemingway), Kerouac terminou seus dias vivendo na casa da mãe, bêbado, cada vez mais reacionário, barrigudo, afastado de seus companheiros e odiando cada cabeludo americano dos anos 60. Abandonou o roteiro em seus livros e passou - graças aos seus experimentos anteriores com maconha, mescalina, peiote e LSD - a escrever quase automaticamente, com fluxos de consciência, mesclados às descrições detalhistas de paisagens da América suburbana. Chegou a votar em Richard Nixon e romper com seus ex-companheiros beats, tratando-os por 'comunistas'. No fim da vida passou horas, anos, na frente da tv, assistindo programas de auditório. Se há um caráter universal em sua obra, este só pode ser a busca do 'Leste da minha juventude para o Oeste do meu futuro'. Mais ou menos como a humanidade fez com o Oriente ancestral para o jovem e transgressor Ocidente. Como fizeram os pioneiros americanos da Rota 6, com carroções e esperanças. Jack com um Cadillac roubado ou no dedão da carona. A história do livro 'On the road' no Brasil, até 1984, consistia numa edição portuguesa onde se podia encontrar frases como: 'Fui-me de boléia ao Orégão num carro descapotável'. Depois de 1984, o tradutor Eduardo Bueno (o 'Peninha', que atualmente faz a história do Brasil no Fantástico), explicou que alguém pode ir de carona num conversível - mas não propriamente no Oregon, porque lá chove muito. Naquele ano, 1984, 'On the road' ficou 22 semanas na lista dos mais vendidos. Não exatamente em primeiro lugar, porque Umberto Eco lançara 'O Nome da Rosa', no mesmo ano. Ao todo, 'Pé na estrada' (um título anexo, exigido pela Editora), vendeu 100 mil exemplares no Brasil. Antes tarde que nunca: as tortas de maçã 'estavam ficando cada vez melhores, à medida que eu avançava', disse Kerouac, no meio de tudo.
Disse certa vez que não conhecia nenhum hippie; dizia que era um católico místico e louco, flertava com o zen budismo e os peregrinos religiosos, como São João da Cruz e Santa Teresa. Bob Dylan decidiu fugir de casa após a leitura de 'On the road' - e como o filho, Jakob Dylan, posou ao lado do túmulo de Jack, num espaço de vinte anos. Nas crônicas de Dylan, há a confissão de que também nada tinha a ver com o movimento hippie. Quando se refugiou em seu rancho, Dylan tinha vontade de atirar naquele bando de cabeludos folgados que peregrinavam até sua casa. Tanto Dylan como Kerouac atingiram o reconhecimento após uma crítica do NY Times. Já a revista Time, acusou o livro de Kerouac de incitar a explosão de vadiagem em violência de jovens, que, de uma hora para outra, em todos os cantos dos EUA, agrupavam-se em bares, em torno de jukeboxes, pilantragem e drogas, para fazer arruaças nas madrugadas.
Para entender Kerouac e os beats é preciso estar atento à 'beatitude', ou seja, a atitude de um beato frente à vida. Sua veia literária não é nova, pois segue uma visão do divino na natureza e na saga dos homens em busca da terra prometida. No caso americano, de Nova Iorque para São Francisco e Los Angeles, através de uma linha vermelha conhecida por Rota 6 - que se une à Rota 66 e pode se transformar, simbolicamente, na 'Rota 666'. Foi o que aconteceu com Jack: seguindo a rota do sol poente, influenciado por Walt Whitman, Thomas Wolfe e William Saroyan (enquanto a América ainda estava sob a influência do ritmo seco e telegráfico de Ernest Hemingway), Kerouac terminou seus dias vivendo na casa da mãe, bêbado, cada vez mais reacionário, barrigudo, afastado de seus companheiros e odiando cada cabeludo americano dos anos 60. Abandonou o roteiro em seus livros e passou - graças aos seus experimentos anteriores com maconha, mescalina, peiote e LSD - a escrever quase automaticamente, com fluxos de consciência, mesclados às descrições detalhistas de paisagens da América suburbana. Chegou a votar em Richard Nixon e romper com seus ex-companheiros beats, tratando-os por 'comunistas'. No fim da vida passou horas, anos, na frente da tv, assistindo programas de auditório. Se há um caráter universal em sua obra, este só pode ser a busca do 'Leste da minha juventude para o Oeste do meu futuro'. Mais ou menos como a humanidade fez com o Oriente ancestral para o jovem e transgressor Ocidente. Como fizeram os pioneiros americanos da Rota 6, com carroções e esperanças. Jack com um Cadillac roubado ou no dedão da carona. A história do livro 'On the road' no Brasil, até 1984, consistia numa edição portuguesa onde se podia encontrar frases como: 'Fui-me de boléia ao Orégão num carro descapotável'. Depois de 1984, o tradutor Eduardo Bueno (o 'Peninha', que atualmente faz a história do Brasil no Fantástico), explicou que alguém pode ir de carona num conversível - mas não propriamente no Oregon, porque lá chove muito. Naquele ano, 1984, 'On the road' ficou 22 semanas na lista dos mais vendidos. Não exatamente em primeiro lugar, porque Umberto Eco lançara 'O Nome da Rosa', no mesmo ano. Ao todo, 'Pé na estrada' (um título anexo, exigido pela Editora), vendeu 100 mil exemplares no Brasil. Antes tarde que nunca: as tortas de maçã 'estavam ficando cada vez melhores, à medida que eu avançava', disse Kerouac, no meio de tudo.