A música "Hotel California" é bem mais badalada que achei que fosse. Descobri "Hotel California" quando fui morar num lugar que tinha praia, tem tudo haver. A outra música que tocavam muito era "Life in the Fast Lane."Hotel California me deu vontade de chorar durante anos a fio. São pedaços da letra, a captividade dos que entraram no hotel, que tem de tudo, como um sanatório, mas ninguém pode sair. Algumas palavras não conhecia, como "colitas". Literalmente são rabinhos, mas se referem à maconha que não é prensada e tem um formato meio que de camarão, super-potente.
Educação, Ciência, Tecnologia, Literatura Marginal, teatro Experimental, música Underground e cinema de arte para mitigar minha existênciazinha perva, psicologia junguiana no meio disso tudo; filosofia e imoralidade; alguns fetiches (leves e incruentos); um pedaço e um corte de cetim...
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
O Jazz
Nascido do blues, das work songs dos trabalhadores negros norte-americanos, do negro spiritual protestante e do ragtime, o jazz passou por uma extraordinária sucessão de transformações no século XX. É notável como essa música se modificou tão profundamente durante um período de apenas um século.
O termo jazz começa a ser usado no final dos anos 10 e início dos anos 20, para descrever um tipo de música que surgia nessa época em New Orleans, Chicago e New York. Seus expoentes são considerados "oficialmente" os primeiros músicos de jazz: a Original Dixieland Jass Band do cornetista Nick LaRocca, o pianista Jelly Roll Morton (que se auto-denominava "criador do jazz"), o cornetista King Oliver com sua Original Creole Jazz Band, e o clarinetista e sax-sopranista Sidney Bechet. Em seguida, vamos encontrar em Chicago os trompetistas Louis Armstrong e Bix Beiderbecke, e em New York o histriônico pianista Fats Waller e o pioneiro bandleader Fletcher Henderson. Em 1930 o jazz já possui uma "massa crítica" considerável e já se acham consolidadas várias grandes orquestras, como as de Duke Ellington, Count Basie, Cab Calloway e Earl Hines.
A evolução histórica do jazz, assim como da literatura, das artes plásticas e da música clássica, segue um padrão de movimento pendular, com tendências que se alternam apontando em direções opostas. Em meados dos anos 30 surge o primeiro estilo maciçamente popular do jazz, o swing, dançante e palatável, que agradava imensamente às multidões durante a época da guerra. Em 1945 surge um estilo muito mais radical e que fazia menos concessões ao gosto popular, o bebop, que seria revisto, radicalizado e ampliado nos anos 50 com o hard bop. Em resposta à agressividade do bebop e do hard bop, aparece nos anos 50 o cool jazz, com uma proposta intelectualizada que está para o jazz assim como a música de câmara está para a música erudita.
O cool e o bop dominam a década de 50, até a chegada do free jazz, dando voz às perplexidades e incertezas dos anos 60. No final dos anos 60, acontece a inevitável fusão do jazz com o rock, resultando primeiro em obras inovadoras e vigorosas, e posteriormente em pastiches produzidos em série e de gosto duvidoso. Hoje existe espaço para cultivar todos os gêneros de jazz, desde o dixieland até o experimentalismo free, desde os velhos e sempre amados standards até as mais ambiciosas composições originais para grandes formações. Mas qual seria o estilo de jazz próprio dos dias de hoje? Talvez o jazz feito com instrumentos eletrônicos - samplers e sequenciadores - num cruzamento com o tecno e o drum´n´bass. Se esse jazz possui a consistência para não se dissolver como tantos outros modismos, só o tempo dirá.
O termo jazz começa a ser usado no final dos anos 10 e início dos anos 20, para descrever um tipo de música que surgia nessa época em New Orleans, Chicago e New York. Seus expoentes são considerados "oficialmente" os primeiros músicos de jazz: a Original Dixieland Jass Band do cornetista Nick LaRocca, o pianista Jelly Roll Morton (que se auto-denominava "criador do jazz"), o cornetista King Oliver com sua Original Creole Jazz Band, e o clarinetista e sax-sopranista Sidney Bechet. Em seguida, vamos encontrar em Chicago os trompetistas Louis Armstrong e Bix Beiderbecke, e em New York o histriônico pianista Fats Waller e o pioneiro bandleader Fletcher Henderson. Em 1930 o jazz já possui uma "massa crítica" considerável e já se acham consolidadas várias grandes orquestras, como as de Duke Ellington, Count Basie, Cab Calloway e Earl Hines.
A evolução histórica do jazz, assim como da literatura, das artes plásticas e da música clássica, segue um padrão de movimento pendular, com tendências que se alternam apontando em direções opostas. Em meados dos anos 30 surge o primeiro estilo maciçamente popular do jazz, o swing, dançante e palatável, que agradava imensamente às multidões durante a época da guerra. Em 1945 surge um estilo muito mais radical e que fazia menos concessões ao gosto popular, o bebop, que seria revisto, radicalizado e ampliado nos anos 50 com o hard bop. Em resposta à agressividade do bebop e do hard bop, aparece nos anos 50 o cool jazz, com uma proposta intelectualizada que está para o jazz assim como a música de câmara está para a música erudita.
O cool e o bop dominam a década de 50, até a chegada do free jazz, dando voz às perplexidades e incertezas dos anos 60. No final dos anos 60, acontece a inevitável fusão do jazz com o rock, resultando primeiro em obras inovadoras e vigorosas, e posteriormente em pastiches produzidos em série e de gosto duvidoso. Hoje existe espaço para cultivar todos os gêneros de jazz, desde o dixieland até o experimentalismo free, desde os velhos e sempre amados standards até as mais ambiciosas composições originais para grandes formações. Mas qual seria o estilo de jazz próprio dos dias de hoje? Talvez o jazz feito com instrumentos eletrônicos - samplers e sequenciadores - num cruzamento com o tecno e o drum´n´bass. Se esse jazz possui a consistência para não se dissolver como tantos outros modismos, só o tempo dirá.
sábado, 13 de junho de 2009
Jack London

A vida de London é marcada de mistérios e dúvidas. A primeira dela é sobre seu pai. Até hoje seus biógrafos brigam para determinar quem é o verdadeiro pai de London. Apesar de ter o sobrenome de William Chaney, um dos mais renomados astrólogos da época, há fortes indícios de que ele não seja seu pai, de fato. Tudo por causa de uma suposta carta que o próprio William teria enviado ao jovem Jack, em 1897, dizendo que não poderia ser seu pai por ser "impotente" enquanto viveu com a mãe do escritor, Flora Wellman. E com o grande terremoto que assolou a cidade no ano de 1906, boa parte dos documentos da cidade foram destruídos e a dúvida ainda permanece. Assim, como há a dúvida se Jack foi realmente registrado com tal nome. Mas, segundo o biógrafo oficial de London, Clarice Stasz, antes de morrer Chaney se referia a Flora como sua esposa (se casaram ou não é uma outra dúvida igualmente jamais esclarecida) e dizia que ela própria se considerava "Florence Wellman Chaney".
Apesar disso, Jack sempre se mostrou uma criança independente, inteligente e curiosa, apesar da vida difícil em Oakland, cidade próxima a San Francisco. Jack praticamente se auto-educou e descobriu a paixão pela leitura após ler o romance Signa, de Ouida (pseudônimo da escritora vitoriana inglesa Maria Louise Ramé, ou Maria Louise de la Ramée, como preferia ser chamada). Segundo Jack, foi esse livro que o fez sonhar em ser escritor.
Após se formar na escola de gramática em 1889, Jack começou a trabalhar em uma fábrica de conservas em uma jornada desumana, que durava de 12 até 18 horas diárias. Desesperado para fugir dessa situação, Jack conseguiu um dinheiro emprestado com sua mãe negra de criação, Jennie Prentiss, e comprou um barco de um pescador de ostras chamado French Frank e começou a viver das ostras. Após acusar a amante de French Fark, Mamie, de tê-lo roubado e ter perdido seu barco, Jack mudou de lado e foi trabalhar como patrulheiro de pesca da Califórnia.
Em 1893, ele desistiu de tudo e foi viajar para o Japão como marinheiro e quando voltou à América viu o país em uma de suas maiores crises econômicas. Acabou aceitando um de seus piores trabalhos, em um fábrica de juta, e também em estradas-de-ferro. A terrível época na fábrica de juta - dez horas por dia a dez cents a hora durante oito meses - seria retratado no conto The Apostate (O Herege), de 1906 e que foi usado na luta para a abolição do trabalho infantil nos Estados Unidos. Depois disso, desistiu e foi viver como vagabundo. Por causa disso, pegou 30 dias de cadeia em Buffalo. Inspirado nisso escreveu os contos Pinched (Na Gaiola) e The Pen (A Prisão).
Tanto a luta na fábrica de juta como a experiência na prisão está relatada no livro De Vagões e Vagabundos, uma antologia compilada por Alberto Alexandre Martins, lançada no Brasil, pela editora L&PM.
Após conhecer Ina Coolbrith, uma das mais importantes poetisas de San Francisco, na biblioteca de Oakland, resolveu terminar os estudos entrando na Oakland High School, onde começou a publicar vários artigos na revista The Aegis. Sua primeira estória foi Typhoon off the coast of Japan, onde conta suas experiências como marinheiro na Ásia. Esse conto acabaria inscrito publicado no San Francisco Morning Call, com Jack recebendo 25 dólares e aliviando sua difícil situação financeira.
London tentou desesperadamente ir para a Universidade da Califórnia e conseguiu em 1896, mas teve que deixá-la no ano seguinte por falta de dinheiro. Com isso, ele jamais se formou e, segundo seus biógrafos, London não publicou escrito algum nesse período.
Quando os estudos fracassaram, Jack e seu cunhado, James Shepard, resolveram aderir à febre da corrida do ouro, no Klondike (Alasca), que seria palco de vários romances seus. Mas London jamais ficou rico e ainda deteriorou consideravelmente sua saúde com a vida insalubre de garimpeiro. Foi ali que contraiu escoburto, perdendo os quatro dentes da frente de sua boca, além de terríveis dores em seu abdome e em suas pernas. Mas graças ao padre William Judge, o "Santo de Dawson", London pôde se recuperar. Por uma ironia da vida, o ateu London havia sido salvo por um padre jesuíta.
Depois disso, ele conheceu o poeta George Sterling. Fizeram uma grande amizade e ele ajudou Jack a encontrar uma casa nos Piemontes. Jack o chamava carinhosamente de "Grego" e o retratou na novela Martin Eden (1909), na pele do personagem de Russ Brissenden e como Mark Hall na novela The Valley of the Moon (1913).
London acabou se tornando um socialista convicto, e lutava contra a febre capitalista que varria a América. Ironicamente, London começou a fazer muito dinheiro publicando suas fantásticas histórias em revistas de baixo custo, tornando-se um verdadeiro sucesso. Em 1900 ganhou 2000 dólares - cerca de 80 mil nos dias de hoje - tornando-se um grande nome. Anos depois, London disse que "literalmente a literatura salvou minha vida".
Em 1901 concorreu ao cargo de prefeito em Oakland, recebendo 245 votos. Em 1902 publica To Build a Fire. Em 1903 fez ainda mais sucesso com o livro Um Chamado da Floresta, contando a história de um cachorro Buck, que é roubado de sua vida doméstica na Califórnia e enviado para o Alasca, para trabalhar. London faz um comovente e brilhante perfil psicológico do animal e da vida humana pelos olhos de um cão. Em 1904 publica uma de suas mais famosas e clássicas histórias, O Lobo do Mar, que conta à história de um brutal comandante de navio, Lobo Larson. Inspirado nas idéias de Karl Marx, Charles Darwin e Nietzsche, London compõe um romance de imenso fundo psicológico.
Paralelamente ao sucesso, London se casou no dia 7 de abirl de 1900 com Bess Maddern, com quem teve uma vida atribulada e confusa. Bess foi retratada como uma criatura má, imoral e vingativa, embora muitos assegurem que ela tenha sido uma ótima esposa e colaboradora, trabalhando muitas vezes como revisora de seus escritos.
Com ela, Jack teve duas filhas - Joan (nascida em 15 de janeiro de 1901 e Bessie (nascida em 20 de outubro de 1902). Jack a deixou no dia 24 de julho de 1903 e no ano seguinte negociaram os termos do divórcio. Depois disso, Jack voltaria a se casar, com Charmian London, com viveria até sua morte).
Jack ainda se viu envolvido em acusações de plágio durante sua carreira e até de racismo, mas nada disso conseguiu ofuscar seu brilho, que ainda tentou, mais uma vez, ser prefeito em Oakland, em 1905, recebendo desta 981 votos.
E, como tudo em sua vida, a morte de London é cercada de mistérios. Embora descrita como suicídio, muitos acreditam que foi apenas um terrível incidente. Extremamente debilitado fisicamente desde os tempos de Klondike, London havia contraído uma uremia, que lhe causava dores insuportáveis. Como forma de alívio, London fazia uso de morfina e muitos acreditam que, acidentalmente, tenha tomado uma dose maior do que estava acostumado. Jack London foi encontrado morto no dia 22 de novembro de 1916, com 40 anos. Há ainda quem acredite que London se suicidou, já que ele tratou do tema em vários escritos.
O corpo de Jack London foi cremado e hoje suas cinzas repousam ao lado de sua esposa Charmian, no Jack London State Historic Park, em Glen Ellen, Califórnia. Consta que deixou uma biblioteca particular monstruosa, com aproximadamente 15 mil títulos.
Alcoólatra assumido (escreveu um belo texto sobre sua dependência, John Barleycorn, usado até hoje pelos Alcoólicos Anônimos como modelo) e mulherengo, Jack London foi um dos mais espetaculares romancistas e novelistas de todos os tempos e colocado ao lado do poeta Walt Withman por sua luta contra o capitalismo, a paixão pelo socialismo e pelas causas sociais. É dono de uma extensa obra, largamente adaptada para o cinema e teatro. London foi fonte direta de inspiração para os escritores beat. Afinal, 50 anos de Kerouac, Ginsberg e demais, London já tinha feito toda as viagens e acumulado todas as experiências possíveis a um homem.
Romances
A Daughter of the Snows (1902) *(A Filha da Neve)
Children of the Frost (1902)
The Call of the Wild (1903) *(O Chamado da Montanha)
The Kempton-Wace Letters (1903, co-autoria com Anna Strunsky)
The Sea-Wolf (1904)*(O Lobo do Mar)
The Game (1905)
White Fang (1906) *(Caninos Brancos)
Before Adam (1907)
The Iron Heel (1908) * (O Tacão de Ferro)
Martin Eden (1909) *(Martin Eden)
Burning Daylight (1910)
Adventure (1911) *(A Aventureira)
Smoke Bellew (1912)
The Scarlet Plague (1912) *(A Praga Escarlate)
The Abysmal Brute (1913)
The Valley of the Moon (1913)
The Mutiny of the Elsinore (1914)
The Star Rover (1915) (published in England under the title "The Jacket") * (O Andarilho das Estrelas)
The Little Lady of the Big House (1916)
The Turtles of Tasman (1916)
Jerry of the Islands (1917)
Michael, Brother of Jerry (1917)
Hearts of Three (1920) (romance feito em cima de um script de cinema de Charles Goddard)
The Assassination Bureau, Ltd (1963) (inacabada e completeda por Robert Fish
Memórias autobiográficas
The Road (1907)
John Barleycorn (1913)
Ensaios
The People of the Abyss (1903) *(O Povo do Abismo - Fome e Miséria no Coração do Império)
Revolution, and other Essays (1910)
How I became a socialist (contido em De Vagões e Vagaundos)
Contos
"Diable-A Dog"
"An Odyssey of the North"
"To the Man on Trail"
"To Build a Fire"
"The Law of Life"
"Moon-Face"
"The Leopard Man's Story" (1903)
"Love of Life"
"All Gold Canyon"
"The Apostate" (contido em De Vagões e Vagabundos)
"To Build a Fire"
"The Chinago"
"A Piece of Steak"
"Good-by, Jack"
"Samuel"
"Told in the Drooling Ward"
"The Mexican"
"The Red One"
"The White Silence"
"The Madness of John Harned"
"A Thousand Deaths"
"The Rejuvenation of Major Rathbone"
"Even unto Death"
"A Relic of the Pliocene"
"The Shadow and the Flash"
"The Enemy of All the World"
"A Curious Fragment"
"Goliah"
"The Unparalled Invasion"
"When the World was Young"
"The Strength of the Strong"
"War"
"The Scarlet Plague"
"The Red One"
Teatro
The Acorn Planter: a California Forest Play (1916)
Mais uma de Morrissey

Há certas músicas que não ouvimos há muitos e muitos anos, e de repente, na noite e no local mais improvável, ouve-se uma... e toca-nos.
Everyday Like is Sunday (Letra)
Trudging slowly over wet sand
Back to the bench where your clothes were stolen
This is the coastal town
That they forgot to close down
Armageddon -
come Armageddon!
Come, Armageddon!
Come!
Everyday is like Sunday
Everyday is silent and grey
Hide on the promenade
Etch a postcard :"How I Dearly Wish I Was Not Here"In the seaside town...that they forgot to bomb
Come, Come, Come - nuclear bomb
Everyday is like Sunday
Everyday is silent and grey
Trudging back over pebbles and sandAnd a strange dust lands on your hands
(And on your face...)
(On your face ...)
(On your face ...)
(On your face ...)
Everyday is like Sunday
"Win Yourself A Cheap Tray"
Share some greased tea with meEveryday is silent and grey
O que há entre a escrita de Charles Bukowski e a arte de Robert Crumb?
Es tan fácil ser poeta y tan difícil ser hombre. (Charles Bukowski)
Traço sujo. Detalhes em exagero: tipo, azeitona que apodrece sobre o mofo do que um dia foi um drinque. Isso é Crumb, para mim, bien sûr. Para mim, que leio Bukowski e me babo pela maneira simples, direta, dura, podre no sentido sincero do coração de um homem - apenas um homem.
Isso faz lembrar que este mesmo homem, o Buk, velho Buk, foi encontrado [por si mesmo] sobre uma lata de lixo, todo vomitado, um rato passeando sobre a perna, numa clássica manhã de ressaca.
Buk: Parte da geração beatnik, mas à parte: ele, o eterno marginal.
O Charles "Hank" Bukowski era alemão: nasceu em Adernach e o pai era americano, primeiro sargento. A mãe, alemã. Diz que o pai era muito feio. Aos três anos, mudou-se com a família para os EUA, para o East Holywood, condomínio moquifento de baixa renda, periferia de Los Angeles. Ali conheceu a miséria. Abusos do pai, alcoólatra. Depois de terminar o segundo grau, estudou jornalismo durante algum tempo no L.A. City College, mas abandonou o curso em 1941, antes de conseguir qualquer graduação. Escolheu a vida bêbada e itinerante, pulando de um emprego para o outro. Em 1956, resolveu dar um tempo: aceitou trabalhar nos correios, lugar que serviu de inspiração para o seu primeiro livro de prosa, "Cartas na Rua" (1971). Mas Bukowski foi também um puta poeta, e publicou diversos livros de poesia. Olha só:
<< Play the piano drunk like a percussion instrument
until the fingers begin to bleed a bit 40,000 Moscas>>
Separados por uma tormenta passageira nos juntamos novamente. Buscamos rachaduras em paredes e tetos e as eternas aranhas. Me pergunto se haverá uma mulher mais. Agora 40,000 moscas encontram os braços de minha alma cantando: "I met a million dollar baby in 5 and 10 cent store" Braços de minha alma? moscas? cantando? que classe de merda é esta? É tão fácil ser poeta e tão difícil ser homem."
Homem de vícios, esse Buk. No traço de Crumb, sua cara de ressaca fica ainda pior, as bitucas de cigarro quase exalam seu fedor.
Os vícios: corridas de cavalos, Jack Daniel's, cerveja, cigarros e mulheres, mais ou menos na ordem em que aparecessem em sua frente. Apesar de estar bêbado em praticamente quase todos os momentos de sua vida, foi um homem tão lúcido quanto pode sê-lo um escritor americano que manda às favas o sistema, foi insano em maneiras de viver a vida, tragá-la como um gole de uísque, até a última gota.
Mesmo com a fama já fazendo-lhe calos à imagem, "Hank" não abriu mão dos caprichos, não deixou de freqüentar os botecos, de ir ao cinema ou de resmungar ao amarrar os sapatos pela manhã; não abriu mão de seu amor aos gatos, às boas coisas que o dinheiro traz e que leva embora sem dar satisfação; mas, principalmente, não abriu mão nunca de escrever: como respirar, dormir, comer. Escreveu feito um faminto ensandecido diante de um carneiro assado se atira à refeição, escreveu sempre, enquanto esteve com os olhos abertos.
<<>> (C. B.)
Na medula, sem floreios ou eufemismos: as mulheres de bundas e peitos rechonchudos, como se estourando de leite, ar vulgar, a boca aberta num sorriso sacana - isso fecha perfeito com o traço das idéias do velho safado. Quem é quem? Não posso lembrar de Buk sem trazer junto Robert Crumb, ou o contrário. Se o mundo bizarro das corridas de cavalos, da noite de Nova York, ou do cotidiano simples de uma mente inquieta, se todo esse material precisou dos dedos e da imaginação de Buk para existir para todos nós, Crumb cristalizou a nanquim a imagem do escritor.
Não conheço as mulheres de Crumb, o imaginário desse artista além-Buk. Uno ambos como se um sem o outro fosse um corpo sem braço. Ou como uma história do próprio Charles Bukowski sem um palavrão.
Traço sujo. Detalhes em exagero: tipo, azeitona que apodrece sobre o mofo do que um dia foi um drinque. Isso é Crumb, para mim, bien sûr. Para mim, que leio Bukowski e me babo pela maneira simples, direta, dura, podre no sentido sincero do coração de um homem - apenas um homem.
Isso faz lembrar que este mesmo homem, o Buk, velho Buk, foi encontrado [por si mesmo] sobre uma lata de lixo, todo vomitado, um rato passeando sobre a perna, numa clássica manhã de ressaca.
Buk: Parte da geração beatnik, mas à parte: ele, o eterno marginal.
O Charles "Hank" Bukowski era alemão: nasceu em Adernach e o pai era americano, primeiro sargento. A mãe, alemã. Diz que o pai era muito feio. Aos três anos, mudou-se com a família para os EUA, para o East Holywood, condomínio moquifento de baixa renda, periferia de Los Angeles. Ali conheceu a miséria. Abusos do pai, alcoólatra. Depois de terminar o segundo grau, estudou jornalismo durante algum tempo no L.A. City College, mas abandonou o curso em 1941, antes de conseguir qualquer graduação. Escolheu a vida bêbada e itinerante, pulando de um emprego para o outro. Em 1956, resolveu dar um tempo: aceitou trabalhar nos correios, lugar que serviu de inspiração para o seu primeiro livro de prosa, "Cartas na Rua" (1971). Mas Bukowski foi também um puta poeta, e publicou diversos livros de poesia. Olha só:
<< Play the piano drunk like a percussion instrument
until the fingers begin to bleed a bit 40,000 Moscas>>
Separados por uma tormenta passageira nos juntamos novamente. Buscamos rachaduras em paredes e tetos e as eternas aranhas. Me pergunto se haverá uma mulher mais. Agora 40,000 moscas encontram os braços de minha alma cantando: "I met a million dollar baby in 5 and 10 cent store" Braços de minha alma? moscas? cantando? que classe de merda é esta? É tão fácil ser poeta e tão difícil ser homem."
Homem de vícios, esse Buk. No traço de Crumb, sua cara de ressaca fica ainda pior, as bitucas de cigarro quase exalam seu fedor.
Os vícios: corridas de cavalos, Jack Daniel's, cerveja, cigarros e mulheres, mais ou menos na ordem em que aparecessem em sua frente. Apesar de estar bêbado em praticamente quase todos os momentos de sua vida, foi um homem tão lúcido quanto pode sê-lo um escritor americano que manda às favas o sistema, foi insano em maneiras de viver a vida, tragá-la como um gole de uísque, até a última gota.
Mesmo com a fama já fazendo-lhe calos à imagem, "Hank" não abriu mão dos caprichos, não deixou de freqüentar os botecos, de ir ao cinema ou de resmungar ao amarrar os sapatos pela manhã; não abriu mão de seu amor aos gatos, às boas coisas que o dinheiro traz e que leva embora sem dar satisfação; mas, principalmente, não abriu mão nunca de escrever: como respirar, dormir, comer. Escreveu feito um faminto ensandecido diante de um carneiro assado se atira à refeição, escreveu sempre, enquanto esteve com os olhos abertos.
<<>> (C. B.)
Na medula, sem floreios ou eufemismos: as mulheres de bundas e peitos rechonchudos, como se estourando de leite, ar vulgar, a boca aberta num sorriso sacana - isso fecha perfeito com o traço das idéias do velho safado. Quem é quem? Não posso lembrar de Buk sem trazer junto Robert Crumb, ou o contrário. Se o mundo bizarro das corridas de cavalos, da noite de Nova York, ou do cotidiano simples de uma mente inquieta, se todo esse material precisou dos dedos e da imaginação de Buk para existir para todos nós, Crumb cristalizou a nanquim a imagem do escritor.
Não conheço as mulheres de Crumb, o imaginário desse artista além-Buk. Uno ambos como se um sem o outro fosse um corpo sem braço. Ou como uma história do próprio Charles Bukowski sem um palavrão.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Poema do Contra
Ei, vocês todos ai, que estão atravancando o meu caminho.....
Vocês Passarão.....
e Eu passarinho.
"Mário Quintana"
Free Last.... (Livre, Afinal...)

Ultimamente, não estou dispondo de tempo para continuar postando diariamente, detesto ter que trabalhar, sou adepto da filosofia malandra do seu madruga que termina no aforismo: " Não existe trabalho ruim, ruim é ter que trabalhar". Mas, infelizmente.... Infelizmente.
Trago aqui, uma libélula dos direitos civis, toda vez que leio, me emociono muito, isso ainda me dá esperança um mundo melhor. Leiam e reflitam, também.
Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)
“Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchado nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição”.
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".
Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora esteja contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixou marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Vocês são os veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.
Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:
"Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".
Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora esteja contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixou marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Vocês são os veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.
Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:
"Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."
terça-feira, 19 de maio de 2009
Histórias de Vampiros

Ontem, não fui trabalhar, estava com uma puta dor de dente, algo que algum tempo tem se tornado constante, pois esse maldito medo que tenho de dentista, me perseguindo desde a infância. A Julgar que não é o único medo que me persegue, posso simplesmente falar de fantasmas, espiritos, da minha vizinha baranga e muitos outros medos. Acredito que de tanto ter medo acabo concluindo que não tenho medo de nada.
Falando em medos, chegou em minhas mão um livros sobre vampiros, estava em minha estante, todo empoeirado, até parece que esse livro pertencera a biblioteca de um conde falido de linhagem milenar, de tão empoeirado que estava. Portanto o texto de hoje, vem justamente falar dessa figura mitica dos vampiros, tão misteriosa e encantadora que resigno-me a falar.
A palavra Vampiro surgiu por volta do século XVIII. Tem origem no idioma sérvio como Vampir, e sua forma básica é invariável nos idiomas tcheco, russo, búlgaro e húngaro.
Lendas oriundas da Eslováquia e da Hungria estabelecem que a alma de um suicida deixava seu sepulcro durante as noites para atacar os humanos, sugava o sangue e retornava como morcego para o túmulo, antes do nascer do sol. Assim, suas vítimas também se tornavam vampiros após a morte. As civilizações da Assíria e Babilônia, também registram lendas sobre criaturas que sugavam sangue de seres humanos e animais de grande porte. Outros mitos pregam que as pessoas que morrem excomungadas tornam-se mortos-vivos vagando pela noite e alimentando-se de sangue, até que os sacramentos da Igreja os libertem. Crianças não-batizadas, e o sétimo filho de um sétimo filho também se tornariam vampiros.
O lendário Livro de Nod narra a origem dos vampiros. Além de A Crônica das Sombras revelando os ensinamentos ocultos de Caim; e A Crônica dos Segredos que revela os mistérios vampíricos.
A tradição judaico-cristã, prega a origem dos vampiros associados aos personagens bíblicos Caim e Abel. Como é descrito no Livro de Nod, Caim foi amaldiçoado por Deus pelo assassinato de seu irmão, Abel. Os Anjos do Criador foram até ele exigir que se redimisse. Orgulhoso, recusou-se e acatou as punições impostas pelos Anjos. A partir deste momento, Caim via-se condenado à solidão e vida eterna, temendo o fogo e a luz, longe do convívio dos mortais.
Caim foi anistiado por Deus após sofrer durante uma era inteira. De volta ao mundo terreno dos homens, fundou e fez-se rei da primeira cidade chamada Enoque. Mas ainda temia a luz, o fogo, e a solidão da eternidade.
Passado-se muitos anos de prosperidade em Enoque, Caim ainda sentia-se só devido a sua imortalidade. Abatido e desmotivado, acabou por cometer outro grande erro: gerou três filhos, que posteriormente geraram outros. Seguiram-se tempos de paz até que chegou o grande dilúvio e lavou toda a Terra. Na cidade de Enoque, sobreviveram apenas Caim, seus filhos, netos e uns poucos mortais. Caim recusou-se a reconstruir a cidade, pois considerava o dilúvio um castigo divino por ter subvertido as leis naturais e gerados seres amaldiçoados como ele. Assim, sua prole reergueu Enoque e assumiu o poder perante os mortais.
Após um período de paz e prosperidade, os sucessores de Caim passaram a travar batalhas entre si. A autoridade dos governantes foi revogada, e tanto os mortais como os membros da prole sentiam-se livres para fundar outras cidades e tornar seu próprio rei. Dessa forma, os imortais ascendentes de Caim, espalharam-se por toda a Terra.
Nesta versão da origem dos vampiros, vimos que tudo teve início com uma maldição divina atribuída a Caim, e depois herdada por sua prole. Porém, torna-se muito difícil estabelecer um limite entre os fatos e as lendas que circundam o mito vampíricos, já que boa parte destas informações confunde-se entre os relatos e pesquisas históricas coerentes, com a ficção dos filmes e RPG’s.
Na lenda de Caim, a conotação do termo Vampiro ainda está ligada apenas ao sentido de imortalidade, solidão e aversão a luz. A relação estabelecida entre a longevidade e a sede pelo sangue (que caracteriza a imagem mais comum dos vampiros), deve-se possivelmente, a personagens lendários que viviam anos incalculáveis alimentando-se de sangue humano, após terem firmado supostos pactos com entidades malignas. Outras versões são encontradas em diferentes culturas, e todas combinam fatos históricos com a crendice regional. Portanto, a maior parte dos povos possui uma entidade sobrenatural que se alimenta de sangue, imortal e considerada maldita. O mito do vampiro é um ponto comum entre várias civilizações desde a Antigüidade.
Uma das maiores referências do mito vampírico é o sanguinário Vlad Tepes (ou Vlad III), que existiu realmente no século XV na Transilvânia. Porém, ele governou apenas a Valáquia, que era uma região vizinha. Apesar da crueldade extrema com os inimigos, Vlad III não possuía nenhuma ligação com os vampiros. O termo Drácula (Dracul, originalmente significa Dragão) foi herdado de seu pai, Vlad II, que foi cavaleiro da Ordem do Dragão. Provavelmente, a confusão se deu através da semelhança entre os termos Drache, que era o título de nobreza atribuído à Vlad II, e Drac que significa Diabo.
A relação entre Vlad III e o mito vampírico foi dada pelo escritor Bram Stocker. O autor de Drácula inspirou-se (provavelmente) nas atrocidades cometidas por Vlad III, e as incorporou em seu personagem principal. A partir deste momento, Vampiro e Drácula tornaram-se praticamente sinônimos na literatura e nas crenças populares.
No Brasil também se encontra mitos relacionados aos vampiros e outros seres semelhantes. Neste caso, os registros entrelaçam-se com o rico folclore das várias regiões do país. Desde os centros urbanos, até as áreas menos desenvolvidas do Brasil, é comum ouvir-se relatos dos ataques sanguinários de criaturas que perambulam pelas madrugadas. Na maioria das vezes, essas histórias assemelham-se muito com as lendas européias.
Na mitologia indígena existe o Cupendipe, que apesar de não possuir a sede de sangue caracterizada pelos vampiros, possui asas de morcego, sai de sua gruta apenas durante a noite e ataca as pessoas usando um machado.
No nordeste brasileiro conta-se a história do Encourado. Um homem de hábitos noturnos, que usa trajes de couro preto, exalando um odor de sangria. O Encourado ataca animais e seres humanos para sugar-lhes o sangue. Prefere as pessoas que não freqüentam igrejas. Porém, os habitantes das cidades por onde o Encourado passa, oferecem-lhe os sacrifícios de criminosos, crianças ou animais de pequeno porte.
Em Manaus, há relatos da presença de uma vampira que atacava os moradores, sugando o sangue através da jugular e deixando marcas de dentes em suas vítimas, exatamente como é contada nos cinemas. Após os ataques, a vampira corria em direção a um rio e transformava-se em sereia, desaparecendo na água. A Vampira do Amazonas possui a capacidade de transmutar-se e força física descomunal.
Em maio de 1973 no município paulista de Guarulhos, foi encontrados o corpo de um rapaz com as perfurações características em seu pescoço. Esse é apenas um exemplo da hipotética ação de vampiros em zonas urbanas. Neste caso, os relatos transcendem a fronteira da boataria e do folclore.
Lendas oriundas da Eslováquia e da Hungria estabelecem que a alma de um suicida deixava seu sepulcro durante as noites para atacar os humanos, sugava o sangue e retornava como morcego para o túmulo, antes do nascer do sol. Assim, suas vítimas também se tornavam vampiros após a morte. As civilizações da Assíria e Babilônia, também registram lendas sobre criaturas que sugavam sangue de seres humanos e animais de grande porte. Outros mitos pregam que as pessoas que morrem excomungadas tornam-se mortos-vivos vagando pela noite e alimentando-se de sangue, até que os sacramentos da Igreja os libertem. Crianças não-batizadas, e o sétimo filho de um sétimo filho também se tornariam vampiros.
O lendário Livro de Nod narra a origem dos vampiros. Além de A Crônica das Sombras revelando os ensinamentos ocultos de Caim; e A Crônica dos Segredos que revela os mistérios vampíricos.
A tradição judaico-cristã, prega a origem dos vampiros associados aos personagens bíblicos Caim e Abel. Como é descrito no Livro de Nod, Caim foi amaldiçoado por Deus pelo assassinato de seu irmão, Abel. Os Anjos do Criador foram até ele exigir que se redimisse. Orgulhoso, recusou-se e acatou as punições impostas pelos Anjos. A partir deste momento, Caim via-se condenado à solidão e vida eterna, temendo o fogo e a luz, longe do convívio dos mortais.
Caim foi anistiado por Deus após sofrer durante uma era inteira. De volta ao mundo terreno dos homens, fundou e fez-se rei da primeira cidade chamada Enoque. Mas ainda temia a luz, o fogo, e a solidão da eternidade.
Passado-se muitos anos de prosperidade em Enoque, Caim ainda sentia-se só devido a sua imortalidade. Abatido e desmotivado, acabou por cometer outro grande erro: gerou três filhos, que posteriormente geraram outros. Seguiram-se tempos de paz até que chegou o grande dilúvio e lavou toda a Terra. Na cidade de Enoque, sobreviveram apenas Caim, seus filhos, netos e uns poucos mortais. Caim recusou-se a reconstruir a cidade, pois considerava o dilúvio um castigo divino por ter subvertido as leis naturais e gerados seres amaldiçoados como ele. Assim, sua prole reergueu Enoque e assumiu o poder perante os mortais.
Após um período de paz e prosperidade, os sucessores de Caim passaram a travar batalhas entre si. A autoridade dos governantes foi revogada, e tanto os mortais como os membros da prole sentiam-se livres para fundar outras cidades e tornar seu próprio rei. Dessa forma, os imortais ascendentes de Caim, espalharam-se por toda a Terra.
Nesta versão da origem dos vampiros, vimos que tudo teve início com uma maldição divina atribuída a Caim, e depois herdada por sua prole. Porém, torna-se muito difícil estabelecer um limite entre os fatos e as lendas que circundam o mito vampíricos, já que boa parte destas informações confunde-se entre os relatos e pesquisas históricas coerentes, com a ficção dos filmes e RPG’s.
Na lenda de Caim, a conotação do termo Vampiro ainda está ligada apenas ao sentido de imortalidade, solidão e aversão a luz. A relação estabelecida entre a longevidade e a sede pelo sangue (que caracteriza a imagem mais comum dos vampiros), deve-se possivelmente, a personagens lendários que viviam anos incalculáveis alimentando-se de sangue humano, após terem firmado supostos pactos com entidades malignas. Outras versões são encontradas em diferentes culturas, e todas combinam fatos históricos com a crendice regional. Portanto, a maior parte dos povos possui uma entidade sobrenatural que se alimenta de sangue, imortal e considerada maldita. O mito do vampiro é um ponto comum entre várias civilizações desde a Antigüidade.
Uma das maiores referências do mito vampírico é o sanguinário Vlad Tepes (ou Vlad III), que existiu realmente no século XV na Transilvânia. Porém, ele governou apenas a Valáquia, que era uma região vizinha. Apesar da crueldade extrema com os inimigos, Vlad III não possuía nenhuma ligação com os vampiros. O termo Drácula (Dracul, originalmente significa Dragão) foi herdado de seu pai, Vlad II, que foi cavaleiro da Ordem do Dragão. Provavelmente, a confusão se deu através da semelhança entre os termos Drache, que era o título de nobreza atribuído à Vlad II, e Drac que significa Diabo.
A relação entre Vlad III e o mito vampírico foi dada pelo escritor Bram Stocker. O autor de Drácula inspirou-se (provavelmente) nas atrocidades cometidas por Vlad III, e as incorporou em seu personagem principal. A partir deste momento, Vampiro e Drácula tornaram-se praticamente sinônimos na literatura e nas crenças populares.
No Brasil também se encontra mitos relacionados aos vampiros e outros seres semelhantes. Neste caso, os registros entrelaçam-se com o rico folclore das várias regiões do país. Desde os centros urbanos, até as áreas menos desenvolvidas do Brasil, é comum ouvir-se relatos dos ataques sanguinários de criaturas que perambulam pelas madrugadas. Na maioria das vezes, essas histórias assemelham-se muito com as lendas européias.
Na mitologia indígena existe o Cupendipe, que apesar de não possuir a sede de sangue caracterizada pelos vampiros, possui asas de morcego, sai de sua gruta apenas durante a noite e ataca as pessoas usando um machado.
No nordeste brasileiro conta-se a história do Encourado. Um homem de hábitos noturnos, que usa trajes de couro preto, exalando um odor de sangria. O Encourado ataca animais e seres humanos para sugar-lhes o sangue. Prefere as pessoas que não freqüentam igrejas. Porém, os habitantes das cidades por onde o Encourado passa, oferecem-lhe os sacrifícios de criminosos, crianças ou animais de pequeno porte.
Em Manaus, há relatos da presença de uma vampira que atacava os moradores, sugando o sangue através da jugular e deixando marcas de dentes em suas vítimas, exatamente como é contada nos cinemas. Após os ataques, a vampira corria em direção a um rio e transformava-se em sereia, desaparecendo na água. A Vampira do Amazonas possui a capacidade de transmutar-se e força física descomunal.
Em maio de 1973 no município paulista de Guarulhos, foi encontrados o corpo de um rapaz com as perfurações características em seu pescoço. Esse é apenas um exemplo da hipotética ação de vampiros em zonas urbanas. Neste caso, os relatos transcendem a fronteira da boataria e do folclore.
sábado, 16 de maio de 2009
Poema escolhido para o fim de semana
“Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...”
(Mario Quintana)
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...”
(Mario Quintana)
Fazer o que Gosta

A escolha de uma profissão e o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando “fazer o que gosta” e um conselho confuso e equivocado. Empresas pagam profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer, que normalmente e jogar futebol, ler um livro ou tomar um chope na praia. Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito. Mas, ai, quem tiraria o lixo, algo necessário, mas que ninguém quer fazer? Muitos sonham trabalhar no terceiro setor porque e o que gostariam de fazer. Esses sonhadores argumentam que trabalhar em projetos sociais, verbalizando essa característica dita por eles definiu-se “Quero ajudar os outros, não quero participar do capitalismo selvagem”.
E uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. A maioria das pessoas que ajudam os outros os faz de graça.
O “ócio criativo” encontra-se nas pequenas contribuições a sociedade que se materializam sem ser percebido, como os programas de ajuda a humanitários. O sonho brasileiro de receber um salário para “fazer o que gosta”, somente e alcançado por alguns professores de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral.
O que seria de nos se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem “fazer o que gosta”? Pediatras e obstetras atendem às duas horas da manha. Médicos enfermeiros atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque tem que ser feito.
Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão ai para fazer o que e preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Isto e dito aqui em respeito aos altruístas que fazem o que tem ser feito do aos egoístas que só querem “fazer o que gosta”.
Então, teremos de trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Existe um final feliz. A saída para esse dilema e aprender a gostar do que faz. E isso e mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer do estético da qualidade e da perfeição.
Alias isso não e um conselho simplesmente profissional, e um conselho de vida, valem à pena ser bem feito. Viva com esse objetivo. Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltara, porque se paga melhor a aqueles que fazem o trabalho bem feito, do aquele que faz o mínimo necessário.
Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitiram que realizasse seu trabalho com distinção e o colocará a frente do demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem, porque não se preparam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e ai odeiam o que fazem mal feitos.
Seja sempre um perfeccionista. Já fizemos muitas coisas chatas na vida, mas sempre fazemos questão de fazê-la bem feita. Isso e motivo de criticas, isso demora, vivera brigando com quem e incompetente, reescreva tudo na sua vida e notará o quanto será exigente.
Se você não gosta de seu trabalho, tente faze-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão. Comecara a ser ate criativo, inventando coisas novas, e isso e um raro prazer.
Faca seu trabalho mal feito e você odiaram o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, o país e a si mesmo.
Sigur Ros

Em 1994, na cidade de Reykjavík, Islândia, três amigos juntam suas economias e gravam uma demo num estúdio deplorável. Depois entregam a fita a uma gravadora (Smekkleysa Records, só pra constar) que lança as músicas da demo numa compilação de novos talentos. Poderia ser a história de qualquer banda. É a história dos Sigur Rós.
Os três amigos (Jón Þór Birgisson, Georg Hólm e Ágúst Ævar Gunnarsson) aceitaram a inclusão de suas músicas na tal compilação como um incentivo, e imediatamente começaram a trabalhar num álbum de estréia, “Von”, que só viria a ser lançado três anos depois. “Von” fez sucesso (na Islândia) e ganhou uma reedição de remixes. Logo depois os Sigur Rós ganharam um novo membro, Kjartan, que ajudou a banda a melhorar suas composições, e marcou o início de um novo tempo para os Sigur Rós. Foi quando eles começaram a trabalhar em cima do elogiadíssimo “Ágætis Byrjun”, lançado no final de 1999 na Islândia e entre a segunda metade de 2000 e final de 2001 no resto do mundo.
Pouco antes de terminarem os trabalhos em “Ágætis byrjun”, Agúst, o baterista, deixou os Sigur Rós. A banda aceitou muito mal a saída do companheiro, e chegou a discutir um possível fim para os Sigur Rós. Foi então que apareceu Orri, um novo baterista, que se deu muito bem com os outros integrantes.
“Ágætis Byrjun” freqüentou listas de “melhores do ano” em muitas das mais importantes publicações sobre música do mundo. Com o sucesso de “Ágætis Byrjun”, e tendo músicas tocando nas rádios no mundo todo, o Sigur Rós decide deixar a Islândia. Isso acontece oficialmente quando migram para o selo londrino “Fat Cat”, com o qual estão até hoje.
Os Sigur Rós produzem uma música hipnótica, com composições geralmente ultrapassando os 6 minutos de duração. Todas as músicas são cantadas em islandês, à exceção do disco “( )”, no qual as letras (das músicas sem nome) foram escritas em “Hopelandic” (“esperancês”), um idioma que é parte inglês, parte islandês e parte fruto da imaginação do vocalista Jón.
Por vezes, Jón utiliza um arco de violoncelo para tocar sua guitarra. Georg faz o mesmo com seu baixo. Kjartan toma conta do teclado estabelecendo uma cortina de fundo essencial ao evoluir da música. Um quarteto de cordas acrescentam suas vozes e transformam o que era belo em angelical. Os agudos do vocalista Jón soam vez ou outra como erupções de emoções incontroláveis, anteriormente sufocadas pela tranquilidade da melodia. A bateria de Orri soa leve, ao fundo, só um chamado à realidade mais forte que o clima produzido pelo conjunto esconde.
Nas suas apresentações ao vivo, os Sigur Rós são capazes de transportar o espectador mais atento a um outro nível de realidade. As suas músicas exigem muito do ouvinte, mas quem se entrega não se arrepende.
As palavras da banda em um trecho da auto-biografia dos Sigur Rós cedida para o site da MTV americana: “Nós não somos uma banda, nós somos música. Nós não temos a intenção de sermos superstars ou milionários, nós simplesmente vamos mudar a música para sempre, e o que as pessoas entendem por música. E não pensem que não somos capazes de fazer isso, nós vamos fazer isso.”
Os Sigur Rós estiveram no Brasil para o Free Jazz Festival de 2001, onde se apresentaram na mesma noite em que o Belle and Sebastian.
Morrissey ..... Bona Drag
Bona Drag é pra mim o melhor cd solo do Morrissey. Quase todas as músi

A primeira música é Piccadilly Palare. “Fora dos trilhos eu estava e fora dos trilhos eu estava feliz em estar”. Dessa forma se inicia o álbum. Para mim passa um pouco a idéia de que estar fora dos locais óbvios, bem visados, não é algo ruim, desde que a pessoa consiga fazer daquilo algo positivo. Na minha visão, na música, ele faz uma pequena comparação entre a amizade e o comércio, definindo seu papel como um “peixe pequeno”, mas uma compra relativamente boa. E ela termina de maneira brilhante com os seguintes versos: “... chora quando pensa em todas as batalhas que lutou (e perdeu). Isso tudo pode acabar amanhã ou pode continuar para sempre...”.
Em seguida vem Interesting Drug (Droga interessante). Pela citação de um esquema governamental, entendo que quando ele fala que “há algumas pessoas más lá em cima”, fala sobre as pessoas de maiores cargos no governo. O casal jovem em débito e as frases “uma vez pobre – sempre pobre” e “droga interessante ... fala a verdade, ela te ajudou mesmo” indicam no meu ponto de visto a busca pelo alivio após constatar o descaso das pessoas que deveriam lhes ajudar, encontrando conforto na droga interessante, não citada qual na música, para continuar seguindo apesar do desalento.
Só o clipe de November Spawned a Monster (Novembro gerou um monstro) já valeria o título de uma das músicas mais conhecidas do Morrissey tanto na época do The Smiths como o período posterior. “Durma e sonhe com o Amor, porque isso é o mais perto que você vai chegar dele” é a típica frase que pode levar alguém a cometer um suicídio. Mas fingindo que o clipe da música não é o marco que é, vemos na letra que essa é uma das letras mais tristes e belas do Morrissey. “Pobre criança retorcida. Tão feia, tão feia. Ah me abrace, ah me abrace.”, “Mas Jesus me criou. Então Jesus, salve-me de pena, compaixão e pessoas comentando sobre mim”, “O que pode tornar bom todo o mau que já foi feito?”. Não é preciso dizer mais nada...
Em Will Never Marry (Nunca vou me casar) ele diz: “Estou escrevendo isso para dizer de um modo gentil: obrigado, mas não vou viver minha vida como, sem dúvida, vou morrer – sozinho. Estou escrevendo isso para dizer de um modo gentil: obrigado... vou viver minha vida como eu... pois se você ficar ou se você me abandonar, uma culpa infundada te alcança. E como ela retorna a sua casa às 5 da manhã, te acorda e ri na sua cara.”. Autch!
Com Such a Little Thing Makes Such a Big Diference (Uma coisa tão pequena faz uma diferença tão grande), Morrissey fala sobre como uma pequena mudança como a de um tom de voz, de uma cortesia mesmo que desajeitada, podem fazer uma diferença tão grande. Mas no meio da música pra lá ele mostra que as pessoas não querem mudar. “Eu não vou mudar e eu não vou ser legal”, “a maioria das pessoas mantém seus cérebros entre as pernas”. E por fim a desilusão: “Deixem-me em paz, eu estava só cantando”.
Em The Last of the Famous International Playboys (O último dos famosos playboys internacionais), eu não sei de quem se trata Ronnie Kray e tô com preguiça de ir ao google procurar. Depois de saber quem é esse cidadão, se é que ele realmente existe, e porque o personagem da música chega a matar, apenas para chamar a atenção dele. Talvez depois eu procure.
Ouija Board, Ouija Board (aquela tábua em que se faz a brincadeira do copo), é o nome da sétima música do álbum. Através do jogo, ele pede a ajuda do jogo para falar com uma amiga que “já partiu deste planeta infeliz”. Há tristeza na letra por ser dito, numa típica frase de Morrissey, “daria pra você me ajudar? Porque eu simplesmente não consigo encontrar meu lugar neste mundo”. E o que dizer quando até mesmo nisso se é rejeitado? “o copo está se movendo. Não , eu não estava empurrando dessa vez. Ele soletra S T E V E N... S A I F O R A”. Steven é o primeiro nome do Morrissey.
Eu simplesmente não sei o que pensar da letra de Hairdresser on Fire (Cabeleireiro pegando fogo), não sei se há algum sentido por trás do que é dito, eu só sei que simplesmente não entendo nada.
Everyday Like is Sunday (Todo dia é como domingo) é uma das músicas mais queridas por mim da sua carreira solo, não pelo fato de às vezes eu concordar com o título da música, mas sua melodia e a penúria da voz passa algo triste mais esperançoso ao mesmo tempo. “Todo dia é como domingo. Todo dia é silencioso e frio”. A súplica pela queda de uma bomba que acabe com o sofrimento é encantador quando unida com a melodia.
He Knows I’d Love To See Him (Ele sabe que eu adoraria vê-lo) é décima do álbum. Eu também não entendo nada dessa também. Então deixa pra lá.
Em seguida tem Yes, I’m blind (É, eu sou cego). “É, eu sou cego. Não, eu não consigo ver as coisa boas, só as coisas ruins... Deve haver algo errado comigo”, “Porque, ao meu modo lamentável, eu te amo”.
Depois há Lucky Lisp (Ceceado da sorte). A admiração pelo ídolo se reflete nas primeiras frases. Ele diz que dá gritos de admiração para aquele que gorjea no balcão. Se é algo verídico, se ele fez isso pra alguém, eu não sei. Mas o que aparenta é que eles estão em um lugar simples, em nada tão grande, como se fosse um início de carreira ainda. Então ele pergunta: “Quando seu nome estiver entre os melhores, meu nome estará na sua lista de convidados?”. Aparentemente não. Pois ele diz: “Eu vou me esgoelar da platéia. Ah, o bobo do camarote era eu, seu bobo”.
Suedehead (Cabeça de camurça) é não só a música mais conhecida da carreira solo do Morrissey, como também é provavelmente a mais bonita. A angústia de ter alguém que você ama mas que não quer mais ao seu lado é transmitida aqui. A dor sentida porque a pessoa insiste em continuar perto de você quando você gostaria que ela estivesse longe, é imensa. “Porque você vem aqui quando sabe que isso torna as coisas mais difíceis para mim? Porque você vem? Porque você telefona? Eu sinto muito, eu sinto muito... Você tinha que se infiltrar no meu quarto ‘apenas’ para ler meu diário. Foi só pra ver todas as coisas que você sabia que eu tinha escrito sobre você? E... tantas ilustrações...”
A última música é Disappointed (Desapontado). “Nosso amigo insone pega a mensagem em mau-tempo: ‘todos os meus amigos e os meus inimigos prefeririam morrer a ter que tocar”. “Garota um dia você vai estar velha. Mas a questão é: eu te amo agora”.
Eis os Caras Bukowski x Kerouac




Nosso amigo Bukowski, C., nasceu no dia 16 de agosto de 1920 em Andernach, na Alemanha, filho de um soldado americano e uma mãe alemã e mudou-se para os EUA com três anos de idade. Cresceu em Los Angeles e lá viveu durante 50 anos. Publicou seu primeiro conto em 1944, com 24 anos de idade, e começou a escrever poemas com 35. Morreu em San Pedro, Califórnia no dia 9 de março de 1994 com 73 anos, pouco depois de ter terminado seu último romance: Pulp (1994).
Foi um outsider na visão de acadêmicos e literários, publicando seus livros e poesias, em geral, como uma literatura alternativa, cult. Nos seus livros mais importantes (Misto Quente, Notas de um Velho Safado, A mulher mais linda da cidade, etc.) adota um alte-ego, chamado Henry Chinaski. Um velho que vive sempre bêbado e na pindaíba mas que retrata a vida com o olhar sincero da ressaca. Em seus romances e poesias, usa de uma linguagem despreocupada com a polidez e cheia de frases de impacto, como no livro "A mulher mais linda da cidade" quando pergunta a um corno o que são um cú e uma buceta. E responde com categoria: nada além disso, são somente um cú e uma buceta. Ou seja, meu amigo... relaxe e goze. Como diria nossa ministra filha da puta do turismo, Marta Suplicy.
Já o nosso amigo Kerouac, J., nasceu em 1922 (1922-1969) e foi o cara que criou o estilo "beat". É considerado por muitos o profeta da geração "beat" e ficou famoso por romper os conceitos conservadoristas da década de 50 nos Estados Unidos. O sua maneira de escrever ganhou fama por ser do tipo viva e relate (sketching) e por viver uma forma de vida pouco convencional, como atravessar os Estados Unidos com alguns dólares no bolso e sair pedindo carona. Dessa maneira de viver foi que nasceu o aclamado "On the Road" (Pé na estrada) que narra suas aventuras com seu amigo Neal Cassidy numa travessia Norte-Americana. Sua linguagem é espontânea e expressa o descontentamento de sua geração e suas características marcantes: romantismo, exaltação da natureza, uso de drogas e celebração da vida livre dos condicionamentos sociais da classe média.
Kerouac, se comparado ao velho Bukowski, seria um coxinha. Embora ambos tratem de assuntos pessoais (autobiográficos) a visão de Bukowski de mundo é uma visão mais suja e dura, relatada numa poesia Boca-Dura. Já Kerouac, é muito mais light em suas autobiografias e tem uma visão de mundo mais positivista e conservadorista; mesmo falando de drogas e bebidas embaladas no ritmo frenético do Jazz (ainda com resquícios do swing). Kerouac é poético por demais -mas quero salientar que eu adoro a literatura dos dois- mas não é tão visceral quanto o velho safado. Para pintar um quadro melhor da comparação entre os dois, se Tyler Durden (do Clube da Luta) existisse o héroi dele seria, sem sombra de dúvidas, Bukowski. Assim meus amigos, sabemos agora o porquê de Bukowski ser um "Outsider" e Kerouac o "queridinho" da América. Kerouac falava da vida sobre uma óptica "La vien rose" enquanto que Bukowski enchergava a vida como ela é, com decepções, conquistas efêmeras e muita sujeira. Os dois são extremamentes recomendados. Vale a pena conferir.
Foi um outsider na visão de acadêmicos e literários, publicando seus livros e poesias, em geral, como uma literatura alternativa, cult. Nos seus livros mais importantes (Misto Quente, Notas de um Velho Safado, A mulher mais linda da cidade, etc.) adota um alte-ego, chamado Henry Chinaski. Um velho que vive sempre bêbado e na pindaíba mas que retrata a vida com o olhar sincero da ressaca. Em seus romances e poesias, usa de uma linguagem despreocupada com a polidez e cheia de frases de impacto, como no livro "A mulher mais linda da cidade" quando pergunta a um corno o que são um cú e uma buceta. E responde com categoria: nada além disso, são somente um cú e uma buceta. Ou seja, meu amigo... relaxe e goze. Como diria nossa ministra filha da puta do turismo, Marta Suplicy.
Já o nosso amigo Kerouac, J., nasceu em 1922 (1922-1969) e foi o cara que criou o estilo "beat". É considerado por muitos o profeta da geração "beat" e ficou famoso por romper os conceitos conservadoristas da década de 50 nos Estados Unidos. O sua maneira de escrever ganhou fama por ser do tipo viva e relate (sketching) e por viver uma forma de vida pouco convencional, como atravessar os Estados Unidos com alguns dólares no bolso e sair pedindo carona. Dessa maneira de viver foi que nasceu o aclamado "On the Road" (Pé na estrada) que narra suas aventuras com seu amigo Neal Cassidy numa travessia Norte-Americana. Sua linguagem é espontânea e expressa o descontentamento de sua geração e suas características marcantes: romantismo, exaltação da natureza, uso de drogas e celebração da vida livre dos condicionamentos sociais da classe média.
Kerouac, se comparado ao velho Bukowski, seria um coxinha. Embora ambos tratem de assuntos pessoais (autobiográficos) a visão de Bukowski de mundo é uma visão mais suja e dura, relatada numa poesia Boca-Dura. Já Kerouac, é muito mais light em suas autobiografias e tem uma visão de mundo mais positivista e conservadorista; mesmo falando de drogas e bebidas embaladas no ritmo frenético do Jazz (ainda com resquícios do swing). Kerouac é poético por demais -mas quero salientar que eu adoro a literatura dos dois- mas não é tão visceral quanto o velho safado. Para pintar um quadro melhor da comparação entre os dois, se Tyler Durden (do Clube da Luta) existisse o héroi dele seria, sem sombra de dúvidas, Bukowski. Assim meus amigos, sabemos agora o porquê de Bukowski ser um "Outsider" e Kerouac o "queridinho" da América. Kerouac falava da vida sobre uma óptica "La vien rose" enquanto que Bukowski enchergava a vida como ela é, com decepções, conquistas efêmeras e muita sujeira. Os dois são extremamentes recomendados. Vale a pena conferir.
A América de John Steinbeck
Desde a década de 1960, impera no mundo um sentimento feroz contra os Estados Unidos. Esse antiamericanismo culminou no atentado ao World Trade Center em 2001, e só aumentou desde então. Nem sempre foi assim. Por um longo período, do início da década de 1920 até o final da de 1950, aproximadamente, os norte-americanos estiveram com moral elevada no cenário internacional. Nesse período triunfaram em duas Guerras Mundiais (de forma financeira na primeira e bélica na segunda), aproveitaram a prosperidade da Era do Jazz, souberam se reerguer depois da dura depressão dos anos 30, fruto da quebra da bolsa de Nova York em 1929. O american way of life parecia o modo ideal de se viver.
Foi também um momento glorioso para as artes nos Estados Unidos. Em todas as áreas surgiram obras que até hoje permanecem clássicas. Foi a época áurea dos estúdios de Hollywood e de cineastas como John Ford, Howard Hawks, George Cukor, Nicholas Ray e George Stevens (além dos estrangeiros radicados e americanos por associação Frank Capra, Billy Wilder, Alfred Hitchcock e Elia Kazan). A música popular encontrou seu auge nos grandes compositores (Cole Porter, Irving Berlin, Johnny Mercer, os irmãos George e Ira Gershwin) e intérpretes (Louis Armstrong, Billie Holiday, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald). O teatro ganhou seu triunvirato definitivo (Eugene O’Neill, Tennessee Williams e Arthur Miller).
Mas nenhuma área cultural foi tão beneficiada quanto a literatura. Depois de muito tempo baseando-se no que se fazia na Europa, as letras americanas ganharam cara no século 19, através de Edgar Allan Poe, Henry James, Nathaniel Hawthorne, Mark Twain, Herman Melville e Walt Whitman, para explodir de vez na primeira metade do século 20. A lista, interminável, está cheia de autores de talento: F. Scott Fitzgerald, William Faulkner, Ernest Hemingway, John Cheever, J.D. Salinger, Sinclair Lewis, John O’Hara.
Um dos principais autores do período e, sem dúvida, o mais americano de todos eles, foi John Steinbeck (1902-1968). Vencedor do Prêmio Nobel em 1962, Steinbeck tornou-se célebre por sua literatura de teor social e pela delicadeza com que tratou temas complicados, como a pobreza durante a depressão. Em particular com As Vinhas da Ira, que narra a saga da família Joad em busca de um emprego na Califórnia, e o ainda melhor A Leste do Éden. Porém, quem conhece pouco da carreira de John Steinbeck vai se surpreender ao bater os olhos em A América e os Americanos e ensaios relacionados (Editora Record, 489 páginas). A obra foi a última lançada em vida por ele, dois anos antes de sua morte. Compreende trinta anos de sua pouco conhecida não-ficção, de 1936 a 1966 (65 textos, no total). O livro aborda uma gama de assuntos: sócio-políticos, pinceladas reflexivas sobre a Depressão, detalhes de sua infância na Califórnia, diário de viagens, opiniões sobre sua obra e, como promete o título, digressões sobre vários aspectos da América e dos cidadãos americanos.
O livro está dividido em oito partes: “Lugares do Coração”, “Artista Engajado”, “Textos Avulsos”, “Sobre a Escrita”, “Amigos”, “Jornalista no Exterior”, “Correspondente de Guerra” e “A América e os Americanos”. Os títulos dos tópicos são bem auto-explicativos. No primeiro, o escritor fala de cidades em que morou ou que guardava com carinho. Fala sobre São Francisco, onde cursou faculdade e viveu de modo hippie quatro décadas antes dos anos sessenta, sobre Nova York (“a única cidade grande em que morei”) e Sag Harbor, pequena vila próxima a NY. O período da Depressão, essencial em sua vida e obra, é radiografado em “Uma Cartilha Sobre os Anos 30”.
Já “Artista Engajado” traz a vertente politizada de Steinbeck. Na época o consideravam um esquerdista, mas quem analisa sua obra com algum afinco percebe que isso não confere. O escritor vivia em um limbo ideológico: era conservador demais para a esquerda e liberal demais para a direita. Era um democrata informal (amigo de Roosevelt, Lyndon Johnson e Adlai Stevenson) e odiava o comunismo, mas não gostava de rotulações: “Simplesmente não me associo por natureza. Fora os Escoteiros e o Coro Episcopal, nunca senti impulsos de me associar às coisas”.
Sua ambigüidade política gerava inimizades. Os comunistas o detestavam, e Steinbeck dá exemplos disso em “Duelos Sem Pistolas”, onde fala da viagem que fez com a esposa para Roma (onde os escritores são levados a sério e recebem o mesmo respeito que as pernas de Lana Turner nos EUA, diz) e foi recebido com uma feroz “Carta Aberta a John Steinbeck”, escrita por esquerdistas que o consideravam um traidor. Por outro lado, sua luta pelos direitos se faz notar em “O Julgamento de Arthur Miller”, em que defende a liberdade de expressão, e em “Ataque Vale”, uma crítica ao racismo da sociedade norte-americana. Sua ânsia democrata é ainda mais notável no hilário “Delegados Republicanos têm Insígnias Maiores e Melhores”.
Em “Textos Avulsos” há de tudo: esporte (“Então Meu Braço Endureceu”), pescaria (“Sobre a Pesca”), carros (“Um Modelo T Chamado ‘Isso’”), vaga-lumes (“...como vaga-lumes capturados”) e cachorros (“Pensamentos a esmo sobre cães a esmo”), um tema que muito lhe foi caro (o mais famoso foi Charlie, que ganhou um romance inteiro).
O capítulo seguinte, “Sobre a Escrita”, é o mais saboroso para os fãs. Lá, ele fala do que lhe dá prazer, seu combustível: a escrita, claro. “Sinto-me bem quando faço isso – melhor do que quando não faço. Encontro alegria na textura, no tom, nos ritmos das palavras e frases”, diz em “Embasamento”. E continua: “Escrever, para mim, é uma função profundamente pessoal, secreta mesmo, e quando o produto é liberado ele separa-se de mim e não tenho mais sensação de que é meu. É como uma mulher tentando recordar como é o parto. Ela não consegue”. Conforme seu amigo Nathaniel Benchley relatou à revista The Paris Review, Steinbeck acreditava que, para escrever bem, a pessoa deve amar ou odiar muito o objeto do texto. “Isso é um espelho da personalidade do John. Era branco ou preto, e, apesar de ele mudar de opinião às vezes, se você estava do seu lado, você estava certo, e se não estivesse, estava completamente errado”.
Steinbeck surpreende ao afirmar que considera Ratos e Homens, uma de suas obras fundamentais, um fracasso. Não pela qualidade, mas pelas ambições técnicas que previa para o livro: sua intenção era criar uma peça-novela, um texto escrito em formato de romance, mas com pouca descrição e profusão de diálogos, o que favoreceria a adaptação ao palco sem perda de conteúdo e, ao mesmo tempo, fugiria da leitura sem tanta fluidez das peças. John acreditava que não alcançara esse equilíbrio: “Não servia para ser encenado porque eu não tinha experiência e conhecimento suficiente da arte do palco. O ritmo estava errado, a hora do pano foi mal escolhida, algumas cenas passaram do limite e muitos métodos comumente usados no romance e que empreguei no livro não ficaram claros no palco”.
O escritor ainda aproveita para alfinetar os críticos, que passaram a criticar a sua obra a partir de As Vinhas da Ira. Outro artigo é uma exaltação do objeto livro, “uma das pouquíssimas mágicas autênticas que nossa espécie criou”. Steinbeck era entusiasta do pocket, vendido a 25 centavos: “Com as edições baratas (...) você enche de livros os braços dos amigos. Diz: quando acabar de lê-los, passe adiante. Isso é uma coisa maravilhosa”.
“Amigos” traz perfis de amigos próximos a Steinbeck. A maioria celebridades: o fotógrafo Robert Capa (“o trabalho de Capa é a imagem de um grande coração e de uma compaixão avassaladora”), companheiro de reportagens de John, o político Adlai Stevenson, o ator Henry Fonda (“seu rosto é um retrato de opostos em conflito”), o músico folk Woody Guthrie (que compôs várias músicas baseadas em As Vinhas da Ira), entre outros. Contudo, é uma não-celebridade que ganha o texto mais tocante de A América e os Americanos: Ed Ricketts, amigo dos tempos de Monterey.
Os dois tópicos seguintes mostram a persona repórter do autor. Sua visão do jornalismo é dividida: “tem a maior das virtudes e o maior dos males. É a primeira coisa que o ditador controla. É pai da literatura e perpetrador de lixo. Em muitos casos é uma única história que temos, embora seja a ferramenta dos piores homens. Mas num período longo, e talvez por ser produto de tanta gente, é a coisa mais pura que temos”. Lembra da valorização do jornalismo na literatura americana: “Na Europa, um jornalista é visto como um escritor de segunda ou terceira classe. Jornalista, para um aspirante europeu às belles-lettres, é um palavrão. Nos Estados Unidos, pelo contrário, o jornalista é não só uma profissão respeitada como também considerado o campo de treino de qualquer bom autor americano”.
Como repórter, é incomum. Quando narra seu curto período na profissão, pouco depois de chegar à Nova York, John diz que levava horas tentando voltar dos lugares onde cobria pautas; não conseguia aprender a roubar fotos das mesas de famílias que se recusavam a ser retratadas, além de ficar emocionalmente envolvido nos casos. É essa inaptidão que faz sua não-ficção sedutora. Ele é um grande observador, alguém que se compromete até o cerne com o assunto. Inadequado para o serviço jornalístico diário, factual e mecânico, e ideal para o jornalismo ensaístico e de opinião. O capítulo “Jornalista no Exterior” coleta artigos sobre países europeus. Três sobre a França, dois sobre a Itália e dois, os melhores, sobre a Irlanda.
Steinbeck cobriu duas guerras: a Segunda Guerra Mundial e a do Vietnã. Na primeira, sofreu resistência dos outros correspondentes, por ser um romancista famoso. Sentiu-se “retardatário, uma vaca sagrada, um tipo de turista”. Seu diferencial era o ponto de vista particular. Os textos não se resumem ao front: Steinbeck fala do dia-a-dia dos soldados e de situações de dentro do exército (a visita do comediante Bob Hope ao quartel, o cachorro que espera os aviões). Com ao Vietnã a ligação era profunda. Admirador do presidente Johnson, Steinbeck era a favor da guerra, assim como outros escritores (John Updike, Vladimir Nabokov, John dos Passos), e foi desancado por isso. Não entendia os protestos antiguerra e resolveu ir ao Vietnã espiar a situação de perto. Voltou horrorizado.
O oitavo e último tópico do livro, o próprio “A América e os Americanos”, é a peça de resistência da obra. Ali, estão concentradas as mais densas e profundas análises. Apesar de sua paixão pelos Estados Unidos – ou talvez por isso –, Steinbeck não se limita a passar a mão na cabeça de seus conterrâneos; não, o escritor critica tanto quanto elogia. Classifica o país e seu povo como “complicados, paradoxais, cabeças-duras, tímidos, cruéis, fanfarrões, indizivelmente queridos e belíssimos”. Lista, assim, as infindáveis contradições que compõem a América e os americanos, uma sociedade que critica com dureza seu governo, mas acredita que é o modelo ideal, uma sociedade agressiva e indefesa, autoconfiante e dependente, hospitaleira e insensível, “uma nação de puritanos públicos e devassos privados”.
Steinbeck é um escritor norte-americano em essência. O país e suas particularidades transbordam em suas frases – a forte identificação é comparável com a de nomes anteriores (Twain) e posteriores (Updike) a ele. Ao mesmo tempo em que é mordaz e impiedoso nas críticas, derrama ternura pela sua terra. Ressalta as qualidades e defeitos de um país que é cada vez mais criticado. Seria interessante ver como o escritor se comportaria em relação ao antiamericanismo atual.
Foi também um momento glorioso para as artes nos Estados Unidos. Em todas as áreas surgiram obras que até hoje permanecem clássicas. Foi a época áurea dos estúdios de Hollywood e de cineastas como John Ford, Howard Hawks, George Cukor, Nicholas Ray e George Stevens (além dos estrangeiros radicados e americanos por associação Frank Capra, Billy Wilder, Alfred Hitchcock e Elia Kazan). A música popular encontrou seu auge nos grandes compositores (Cole Porter, Irving Berlin, Johnny Mercer, os irmãos George e Ira Gershwin) e intérpretes (Louis Armstrong, Billie Holiday, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald). O teatro ganhou seu triunvirato definitivo (Eugene O’Neill, Tennessee Williams e Arthur Miller).
Mas nenhuma área cultural foi tão beneficiada quanto a literatura. Depois de muito tempo baseando-se no que se fazia na Europa, as letras americanas ganharam cara no século 19, através de Edgar Allan Poe, Henry James, Nathaniel Hawthorne, Mark Twain, Herman Melville e Walt Whitman, para explodir de vez na primeira metade do século 20. A lista, interminável, está cheia de autores de talento: F. Scott Fitzgerald, William Faulkner, Ernest Hemingway, John Cheever, J.D. Salinger, Sinclair Lewis, John O’Hara.
Um dos principais autores do período e, sem dúvida, o mais americano de todos eles, foi John Steinbeck (1902-1968). Vencedor do Prêmio Nobel em 1962, Steinbeck tornou-se célebre por sua literatura de teor social e pela delicadeza com que tratou temas complicados, como a pobreza durante a depressão. Em particular com As Vinhas da Ira, que narra a saga da família Joad em busca de um emprego na Califórnia, e o ainda melhor A Leste do Éden. Porém, quem conhece pouco da carreira de John Steinbeck vai se surpreender ao bater os olhos em A América e os Americanos e ensaios relacionados (Editora Record, 489 páginas). A obra foi a última lançada em vida por ele, dois anos antes de sua morte. Compreende trinta anos de sua pouco conhecida não-ficção, de 1936 a 1966 (65 textos, no total). O livro aborda uma gama de assuntos: sócio-políticos, pinceladas reflexivas sobre a Depressão, detalhes de sua infância na Califórnia, diário de viagens, opiniões sobre sua obra e, como promete o título, digressões sobre vários aspectos da América e dos cidadãos americanos.
O livro está dividido em oito partes: “Lugares do Coração”, “Artista Engajado”, “Textos Avulsos”, “Sobre a Escrita”, “Amigos”, “Jornalista no Exterior”, “Correspondente de Guerra” e “A América e os Americanos”. Os títulos dos tópicos são bem auto-explicativos. No primeiro, o escritor fala de cidades em que morou ou que guardava com carinho. Fala sobre São Francisco, onde cursou faculdade e viveu de modo hippie quatro décadas antes dos anos sessenta, sobre Nova York (“a única cidade grande em que morei”) e Sag Harbor, pequena vila próxima a NY. O período da Depressão, essencial em sua vida e obra, é radiografado em “Uma Cartilha Sobre os Anos 30”.
Já “Artista Engajado” traz a vertente politizada de Steinbeck. Na época o consideravam um esquerdista, mas quem analisa sua obra com algum afinco percebe que isso não confere. O escritor vivia em um limbo ideológico: era conservador demais para a esquerda e liberal demais para a direita. Era um democrata informal (amigo de Roosevelt, Lyndon Johnson e Adlai Stevenson) e odiava o comunismo, mas não gostava de rotulações: “Simplesmente não me associo por natureza. Fora os Escoteiros e o Coro Episcopal, nunca senti impulsos de me associar às coisas”.
Sua ambigüidade política gerava inimizades. Os comunistas o detestavam, e Steinbeck dá exemplos disso em “Duelos Sem Pistolas”, onde fala da viagem que fez com a esposa para Roma (onde os escritores são levados a sério e recebem o mesmo respeito que as pernas de Lana Turner nos EUA, diz) e foi recebido com uma feroz “Carta Aberta a John Steinbeck”, escrita por esquerdistas que o consideravam um traidor. Por outro lado, sua luta pelos direitos se faz notar em “O Julgamento de Arthur Miller”, em que defende a liberdade de expressão, e em “Ataque Vale”, uma crítica ao racismo da sociedade norte-americana. Sua ânsia democrata é ainda mais notável no hilário “Delegados Republicanos têm Insígnias Maiores e Melhores”.
Em “Textos Avulsos” há de tudo: esporte (“Então Meu Braço Endureceu”), pescaria (“Sobre a Pesca”), carros (“Um Modelo T Chamado ‘Isso’”), vaga-lumes (“...como vaga-lumes capturados”) e cachorros (“Pensamentos a esmo sobre cães a esmo”), um tema que muito lhe foi caro (o mais famoso foi Charlie, que ganhou um romance inteiro).
O capítulo seguinte, “Sobre a Escrita”, é o mais saboroso para os fãs. Lá, ele fala do que lhe dá prazer, seu combustível: a escrita, claro. “Sinto-me bem quando faço isso – melhor do que quando não faço. Encontro alegria na textura, no tom, nos ritmos das palavras e frases”, diz em “Embasamento”. E continua: “Escrever, para mim, é uma função profundamente pessoal, secreta mesmo, e quando o produto é liberado ele separa-se de mim e não tenho mais sensação de que é meu. É como uma mulher tentando recordar como é o parto. Ela não consegue”. Conforme seu amigo Nathaniel Benchley relatou à revista The Paris Review, Steinbeck acreditava que, para escrever bem, a pessoa deve amar ou odiar muito o objeto do texto. “Isso é um espelho da personalidade do John. Era branco ou preto, e, apesar de ele mudar de opinião às vezes, se você estava do seu lado, você estava certo, e se não estivesse, estava completamente errado”.
Steinbeck surpreende ao afirmar que considera Ratos e Homens, uma de suas obras fundamentais, um fracasso. Não pela qualidade, mas pelas ambições técnicas que previa para o livro: sua intenção era criar uma peça-novela, um texto escrito em formato de romance, mas com pouca descrição e profusão de diálogos, o que favoreceria a adaptação ao palco sem perda de conteúdo e, ao mesmo tempo, fugiria da leitura sem tanta fluidez das peças. John acreditava que não alcançara esse equilíbrio: “Não servia para ser encenado porque eu não tinha experiência e conhecimento suficiente da arte do palco. O ritmo estava errado, a hora do pano foi mal escolhida, algumas cenas passaram do limite e muitos métodos comumente usados no romance e que empreguei no livro não ficaram claros no palco”.
O escritor ainda aproveita para alfinetar os críticos, que passaram a criticar a sua obra a partir de As Vinhas da Ira. Outro artigo é uma exaltação do objeto livro, “uma das pouquíssimas mágicas autênticas que nossa espécie criou”. Steinbeck era entusiasta do pocket, vendido a 25 centavos: “Com as edições baratas (...) você enche de livros os braços dos amigos. Diz: quando acabar de lê-los, passe adiante. Isso é uma coisa maravilhosa”.
“Amigos” traz perfis de amigos próximos a Steinbeck. A maioria celebridades: o fotógrafo Robert Capa (“o trabalho de Capa é a imagem de um grande coração e de uma compaixão avassaladora”), companheiro de reportagens de John, o político Adlai Stevenson, o ator Henry Fonda (“seu rosto é um retrato de opostos em conflito”), o músico folk Woody Guthrie (que compôs várias músicas baseadas em As Vinhas da Ira), entre outros. Contudo, é uma não-celebridade que ganha o texto mais tocante de A América e os Americanos: Ed Ricketts, amigo dos tempos de Monterey.
Os dois tópicos seguintes mostram a persona repórter do autor. Sua visão do jornalismo é dividida: “tem a maior das virtudes e o maior dos males. É a primeira coisa que o ditador controla. É pai da literatura e perpetrador de lixo. Em muitos casos é uma única história que temos, embora seja a ferramenta dos piores homens. Mas num período longo, e talvez por ser produto de tanta gente, é a coisa mais pura que temos”. Lembra da valorização do jornalismo na literatura americana: “Na Europa, um jornalista é visto como um escritor de segunda ou terceira classe. Jornalista, para um aspirante europeu às belles-lettres, é um palavrão. Nos Estados Unidos, pelo contrário, o jornalista é não só uma profissão respeitada como também considerado o campo de treino de qualquer bom autor americano”.
Como repórter, é incomum. Quando narra seu curto período na profissão, pouco depois de chegar à Nova York, John diz que levava horas tentando voltar dos lugares onde cobria pautas; não conseguia aprender a roubar fotos das mesas de famílias que se recusavam a ser retratadas, além de ficar emocionalmente envolvido nos casos. É essa inaptidão que faz sua não-ficção sedutora. Ele é um grande observador, alguém que se compromete até o cerne com o assunto. Inadequado para o serviço jornalístico diário, factual e mecânico, e ideal para o jornalismo ensaístico e de opinião. O capítulo “Jornalista no Exterior” coleta artigos sobre países europeus. Três sobre a França, dois sobre a Itália e dois, os melhores, sobre a Irlanda.
Steinbeck cobriu duas guerras: a Segunda Guerra Mundial e a do Vietnã. Na primeira, sofreu resistência dos outros correspondentes, por ser um romancista famoso. Sentiu-se “retardatário, uma vaca sagrada, um tipo de turista”. Seu diferencial era o ponto de vista particular. Os textos não se resumem ao front: Steinbeck fala do dia-a-dia dos soldados e de situações de dentro do exército (a visita do comediante Bob Hope ao quartel, o cachorro que espera os aviões). Com ao Vietnã a ligação era profunda. Admirador do presidente Johnson, Steinbeck era a favor da guerra, assim como outros escritores (John Updike, Vladimir Nabokov, John dos Passos), e foi desancado por isso. Não entendia os protestos antiguerra e resolveu ir ao Vietnã espiar a situação de perto. Voltou horrorizado.
O oitavo e último tópico do livro, o próprio “A América e os Americanos”, é a peça de resistência da obra. Ali, estão concentradas as mais densas e profundas análises. Apesar de sua paixão pelos Estados Unidos – ou talvez por isso –, Steinbeck não se limita a passar a mão na cabeça de seus conterrâneos; não, o escritor critica tanto quanto elogia. Classifica o país e seu povo como “complicados, paradoxais, cabeças-duras, tímidos, cruéis, fanfarrões, indizivelmente queridos e belíssimos”. Lista, assim, as infindáveis contradições que compõem a América e os americanos, uma sociedade que critica com dureza seu governo, mas acredita que é o modelo ideal, uma sociedade agressiva e indefesa, autoconfiante e dependente, hospitaleira e insensível, “uma nação de puritanos públicos e devassos privados”.
Steinbeck é um escritor norte-americano em essência. O país e suas particularidades transbordam em suas frases – a forte identificação é comparável com a de nomes anteriores (Twain) e posteriores (Updike) a ele. Ao mesmo tempo em que é mordaz e impiedoso nas críticas, derrama ternura pela sua terra. Ressalta as qualidades e defeitos de um país que é cada vez mais criticado. Seria interessante ver como o escritor se comportaria em relação ao antiamericanismo atual.
A Revolução Beatnik

A partir dos anos 50, a escrita ganhou som, fúria e movimento nas mãos ligeiras de jovens escritores que decidiram encarar o conservadorismo moral vigente nos EUA e instaurar uma nova maneira de enfrentar o mundo. Essa geração, que passaria a ser reconhecida como “beat”, protagonizou uma reformulação em termos de comportamento, desenvolveu a expansão da consciência por meio de experiências alucinógenas e ganhou a admiração de jovens insatisfeitos da classe média.
A influência extrapolou o campo literário e estendeu-se por gerações. As canções de Bob Dylan e Jim Morrison ou os filmes de Wim Wenders e Jim Jarmusch são exemplos declarados ou dissimulados de seguidores do espírito beat. Muito do que se viu nos anos 60: a manifestação dos hippies, a experiência com drogas, os discursos fervorosos sobre sexualidade, os manifestos antimilitares, associa-se ao universo de interesse dos autores beats.
Três escritores e três livros formam o panteão da geração. “Pé na Estrada” (“On The Road”), de Jack Kerouac, “Almoço Nu” (“Naked Lunch”), de William Burroughs e o poema “Uivo” (“Howl”), de Allen Ginsberg. Em comum, as obras têm um vigor narrativo muito intenso, um fluxo de pensamento desordenado, por vezes caótico, e uma “linguagem de rua”, cheia de gírias e palavrões. Sobre o estilo verborrágico de Kerouac, o escritor e tradutor Eduardo Bueno diz:
“Kerouac empenhou-se em forjar uma nova prosódia, capturando a sonoridade das ruas, das planícies e das estradas dos EUA, disposto a libertar a literatura norte-americana de determinadas amarras acadêmicas e de um certo servilismo a fórmulas européias (ou europeizantes). Ao fazê-lo, introduziu o som na prosa -antes e melhor do que qualquer outro romancista de sua geração”.
Além das particularidades narrativas, os integrantes do movimento faziam questão de levar uma vida condizente com o ritmo de seus relatos. A distribuidora Magnus Opus oferece uma boa oportunidade para conferir esse aspecto biográfico nos documentários recém-lançados “Kerouac - O Rei dos Beats”, dirigido por John Antonelli em 1984, e “William Burroughs, Poeta do Submundo” (1991), do diretor Klaus Maeck.
O primeiro é um registro da vida do escritor norte-americano Jack Kerouac, desde sua infância em Lowell até a sua morte, noticiada em 1969 por um telejornal da época. A seqüência dos fatos é dramatizada pelo ator Jack Coulter, no papel do escritor, e intercalada pela leitura de trechos de seus livros. Muito do que aparece na tela serve menos para desmistificá-lo e mais para manter certo glamour em suas atitudes.
Vários depoimentos de amigos íntimos (Lawrence Ferlinghetti, Armand Morissette) e amantes de Kerouac são combinados com declarações do próprio escritor numa entrevista rara de 1968, no programa televisivo de William Buckley. O amigo e agente literário Allen Ginsberg conta no documentário que, por ocasião desse encontro, Kerouac, acatando sugestão de Burroughs, resolveu alugar um quarto em Nova York, onde ficaram também sua irmã e o cunhado. Ginsberg resolveu acompanhá-lo até o estúdio onde seria gravada a entrevista. Momentos antes, Kerouac avistou uma bebida encostada no canto do camarim. Quando foi o momento de aparecer no palco, Ginsberg conta que o amigo “foi para o programa embriagado, todo caipira e com barriga de cerveja”. A fala pastosa e o rosto inchado de Kerouac revelam o estado alterado em que concedera a entrevista.
O outro documentário, dedicado a William Burroughs, tem formato parecido, mas não prioriza tanto a cronologia de sua vida. Expõe mais suas idéias e suas experiências literárias. Exibe o próprio autor realizando leitura de suas obras no teatro Filmkunst, em 1986, além de trechos de uma entrevista ao escritor Jürgen Ploog. Ao ser questionado sobre a desordem narrativa estabelecida em seus livros, Burroughs afirma que “é muito difícil para qualquer um parar a fluência das palavras”.
Ambos os filmes servem como ponto de partida para se mergulhar no universo intrincado e despudorado dos escritores beats: o uso de drogas lícitas e ilícitas, o consumo desenfreado de bebidas alcoólicas, as experiências sexuais, o comportamento incontido dos personagens, a convivência à margem da sociedade e uma necessidade voluptuosa de registrar no papel sua própria devassidão.
Kerouac e a enxurrada de palavras
Jack Kerouac escreveu sua obra-prima “On The Road”, livro que seria consagrado mais tarde como a “bíblia hippie”, em apenas três semanas. O fôlego narrativo alucinante do escritor impressionou bastante seus editores. Jack usava uma máquina de escrever e um rolo de papel de telex para não ter de trocar de folha a todo o momento. Redigia de forma ininterrupta, invariavelmente sem a preocupação de cadenciar o fluxo de palavras com pontuação e parágrafos.
O material bruto que chegou às mãos de Malcom Cowley, da editora Viking Press, em 1957, deu trabalho. Os rolos quilométricos de texto tiveram de ser revisados, foram inseridos pontos e vírgulas e praticamente 120 páginas do original foram eliminadas. O estilo-avalanche de Jack tinha ainda um elemento intensificador. Ele trabalhou em cima do livro sob o efeito de benzedrina, uma droga estimulante.
“Começamos a experimentar benzedrina e anestésicos. Eu pensava que não poderia escrever porque minha mente ficava confusa, mas Jack sentia que podia escrever romances usando isso. E acho que alguns dos seus romances do início dos anos 50 foram escritos sob efeito desses e outros tóxicos. Jack praticamente se sentava e datilografava por várias semanas, fazia correções, escrevia continuamente 5, 6 ou 7 horas por dia, às vezes até o dia inteiro”, diz o amigo Allen Ginsberg.
Jack Kerouac era de origem franco-canadense. Nasceu no dia 12 de março de 1922, em Lowell, no estado americano de Massachusetts. Na infância, freqüentou um colégio jesuíta e ajudou o pai na fábrica de impressão. Um de seus traumas mais trágicos, que voltaria relatado em seus romances, foi à morte de seu irmão Gerard quando ele tinha apenas nove anos.
Devido às dificuldades econômicas por que passava a família, Jack resolveu fazer parte do time de futebol americano do colégio para tentar uma bolsa de estudo na faculdade. E conseguiu. Mudou-se com os pais para Nova York e iniciou um curso na Universidade de Columbia. Antes de pegar o diploma, abandonou os estudos e resolveu alistar-se na Marinha.
Foi a época em que Jack conheceu os grandes amigos que formariam, alguns anos mais tarde, o pelotão de frente da geração beat. Para desgosto da mãe, perambulava pelas ruas de Nova York com o poeta Allen Ginsberg, conheceu também William Burroughs, chamado de Bill pelos camaradas, além de seu maior companheiro de viagens, Neal Cassady, o “Cowboy”.
A relação do escritor com Neal foi determinante para despertar em Jack sua vontade reprimida de botar o pé na estrada e desfrutar de uma liberdade ainda não experimentada. Os dois viajaram por sete anos percorrendo a rota 66, que cruza os EUA na direção leste-oeste, com descidas freqüentes ao México. Saíram de Nova York e cruzaram o país em direção a São Francisco. Dessa jornada saiu o livro “On the Road”, cujo protagonista é Dean Moriarty, o nome criado por Jack para representar o amigo Neal.
“Jack sempre foi muito tímido, ainda que parecesse durão, era doce, sensível, passional. Neal era mais espontâneo, machão sem fazer esforço, mas também se interessava muito pelas palavras. Ele esperava Jack ensiná-lo a ser do seu jeito. Eles eram opostos e muita gente pensava que se pareciam. Neal era rude, Jack era mais introvertido e gostaria de ter a mesma iniciativa com as mulheres. Ele gostava de ver Neal fazer isso”, diz a novelista e mulher de Neal, Carolyn Cassady.
O sucesso e o prestígio conquistados após a publicação de “On the Road”, em 1957, deixaram Jack atormentado. Apesar de eventuais críticas positivas que realçavam o caráter inovador da obra, muitos criticos o tacharam de subliterato e imoral. A primeira resenha escrita por Gilbert Millstein no jornal The New York Times foi satisfatória. Ele recorda no documentário “O Rei dos Beats” qual foi sua sensação ao ler o livro.
“Eu li o livro e fiquei simplesmente estupefato. Eu disse ali que acreditava naquilo como a expressão perfeita de uma geração, assim como Hemingway em ‘The Sun Also Rises’ também foi uma expressão da sua geração naquela época”. O efeito imediato da fama causou apreensão e relutância em Jack. Joyce Johnson, a jovem namorada com quem o escritor morava na época, relembra a reação dele diante da celebração instantânea. “Ele estava agitado e com medo. Ele também sentia que teria de viver para sua imagem pública, pois todos esperariam que ele fosse como Dean Moriarty ou Neal Cassady, mas ele era só Jack Kerouac. Era bastante tímido, preferia ficar num canto olhando, refletindo”.
Logo após a publicação, Jack trabalhou intensamente em outros projetos. “The Dharma Bums”, lançado em 1958, foi à tentativa do escritor de estabelecer afinidades com o budismo. É o relato de uma escalada com o amigo poeta Gary Snyder em busca de realizações espirituais.
Nesta mesma época, Jack resolveu se isolar do convívio humano. Subiu até o alto de uma colina e passou longo dia sozinho confinado em uma cabana sem eletricidade e sem vidros nas janelas. Tomava quase uma garrafa de bebida por dia e sofreu com alucinações e paranóias. A experiência foi registrada no livro “Big Sur”, de 1962. O problema do alcoolismo piorou com o tempo, e Jack foi morar com a mãe. O vigor deu lugar ao cansaço, e o escritor resignou-se a uma vida ordinária.
Em 21 de outubro de 1969, Jack Kerouac morreu de hemorragia, quando tinha 47 anos, no hospital em St. Petesburg, na Flórida. O amigo e agente literário Allen Ginsberg reverencia seu talento: “Eu não conheço outro escritor que teve influência tão produtiva quanto Kerouac, que abriu o coração como escritor para contar o máximo dos segredos da sua própria mente”.
BURROUGHS E A CONSCIÊNCIA EM EXPANSÃO
William Seward Burroughs mergulhou fundo nas experiências com narcóticos e tirou de lá uma percepção inusitada do mundo com a qual abasteceu suas histórias sobre doentes terminais, homossexuais, traficantes e criaturas asquerosas. Pagou caro por isso. Teve passagem por clínicas de reabilitação e sobreviveu sob severos tratamentos.
De família tradicional, Bill, como era conhecido pelos amigos, nasceu em 1914, na cidade de Saint Louis, no estado americano de Missouri. Foi neto de um famoso inventor de máquinas de calcular. Formou-se em artes na Universidade de Harvard, em 1936. Durante este período, o escritor aproveitou para circular pelos clubes e becos underground de Nova York. Após o término da faculdade, Bill viajou para a Europa às custas de mesadas concedidas pelos pais.
Chegou a estudar medicina em Veneza, na Itália. De passagem por Viena, Burroughs conheceu Ilse Klapper, uma jovem judia, com quem o escritor se casou, e viajou de volta para os EUA. Em 1951, um acontecimento trágico envolvendo sua segunda esposa afetou-o diretamente e despertou-lhe o desejo de escrever. Durante uma estadia no México, Bill pediu para que Joan Vollmer, sua mulher, equilibrasse um copo sobre a cabeça. Depois pegou um revólver e ajustou a mira. O disparo que seria para estilhaçar o copo acertou em cheio o rosto de Joan.
Bill passou 13 dias preso e foi libertado sob a alegação de que o caso fora acidental. Ainda no México, Burroughs começou a escrever seu primeiro livro, “Junky”, e deixou uma série de manuscritos incompletos referentes a um estudo sobre homossexualidade. Em 1953, fez uma excursão de seis meses pela América do Sul para estudar uma substância vegetal alucinógena chamada ayahuasca, usada em cultos de povos nativos. Mais tarde escreveria o livro “Yage” sobre essa experiência.
Sua principal obra, “Almoço Nu”, foi construída de forma desordenada durante nove anos de viagem do autor por diversos continentes. Na nota de introdução à edição mais recente da obra, os editores Barry Miles e James Grauerholz comentam: “Burroughs debatia-se de forma inclemente com a ‘forma’ de seu romance, mas como a cada dia escrevia mais e tomava novos rumos, acabou perdendo a capacidade de gerenciar o caos de páginas datilografadas e escritas à mão que se acumulavam em seu quarto com jardim no Hotel Muniriya, de Tânger”.
Na maior parte do tempo, Burroughs confinou-se num quartinho em Tânger, no Marrocos, a fim de concentrar esforços para botar um ponto final na sua obra. Diariamente, usava drogas sintéticas injetáveis e substâncias derivadas do ópio. Seu grau de dependência e consumo aumentou até chegar no limite de debilitação do corpo em 1956, quando o escritor viajou a Londres em busca de ajuda. Na capital inglesa, o escritor ficou internado sob medicação de apomorfina, receitada pelo doutor John Dent, numa tentativa de reabilitá-lo. O próprio autor faz um depoimento acerca do tratamento, em um dos apêndices que acompanham a versão definitiva de “Almoço Nu”. “Encontrei essa vacina quando estava no fundo do poço da ‘junk’ (termo genérico para designar o ópio e seus derivados). Vivia em um quarto no bairro Nativo de Tânger. Não tomava banho havia um ano nem trocava ou tirava as roupas para nada a não ser para enfiar uma agulha na carne fibrosa, desbotada e rígida da dependência terminal, coisa que fazia de hora em hora”, escreveu.
Após o tratamento com apomorfina, Burroughs deixou a clínica e passou dois anos afastados das drogas. Ajudado por Allen Ginsberg, Alan Ansen e Peter Orlovsky - reunidos em Tânger- houve uma cooperação de todos para revisar o numeroso material bruto e organizar os capítulos. O teor das páginas escritas variava desde experiências sexuais e orgias, extensos estudos sobre tipos de narcóticos, revelações sobre o tráfico de entorpecentes e relatos de sonhos repletos de criaturas fantásticas.
Tudo sem depender exclusivamente de uma linha de raciocínio lógica, algo elaborado como uma emancipação livre do fluxo de consciência. Após ser rejeitado pelo editor Lawrence Ferlinghetti, da City Lights Books, editora de San Francisco especializada em publicações independentes, “Almoço Nu” foi publicado pela editora francesa Olympia Press, em 1959, e saiu nas livrarias dos EUA dois anos depois, numa reedição da Grove Press.
Burroughs tornou-se rapidamente um símbolo da contracultura e continuou espalhando suas idéias libertárias. Seus livros seguintes –com destaque para “Nova Express” (1963)- adotaram uma fórmula testada no seu romance anterior: o método “cut-up”. Uma narrativa que consiste em justapor palavras e imagens de outros contextos (muitas vezes apropriando-se de textos de outros autores) a fim de criar uma nova combinação informativa.
Até a sua morte, em 1997, na cidade de Kansas, Burroughs colaborou de forma atuante com diversos artistas. Fez uma ponta como um clérigo viciado em drogas no filme “Drugstore Cowboy” (1989), do diretor americano Gus Van Sant, auxiliou o cineasta canadense David Cronenberg na adaptação para as telas do seu romance “Almoço Nu” e chegou a fazer uma participação especial na gravação de uma canção do grupo grunge Nirvana.
A influência extrapolou o campo literário e estendeu-se por gerações. As canções de Bob Dylan e Jim Morrison ou os filmes de Wim Wenders e Jim Jarmusch são exemplos declarados ou dissimulados de seguidores do espírito beat. Muito do que se viu nos anos 60: a manifestação dos hippies, a experiência com drogas, os discursos fervorosos sobre sexualidade, os manifestos antimilitares, associa-se ao universo de interesse dos autores beats.
Três escritores e três livros formam o panteão da geração. “Pé na Estrada” (“On The Road”), de Jack Kerouac, “Almoço Nu” (“Naked Lunch”), de William Burroughs e o poema “Uivo” (“Howl”), de Allen Ginsberg. Em comum, as obras têm um vigor narrativo muito intenso, um fluxo de pensamento desordenado, por vezes caótico, e uma “linguagem de rua”, cheia de gírias e palavrões. Sobre o estilo verborrágico de Kerouac, o escritor e tradutor Eduardo Bueno diz:
“Kerouac empenhou-se em forjar uma nova prosódia, capturando a sonoridade das ruas, das planícies e das estradas dos EUA, disposto a libertar a literatura norte-americana de determinadas amarras acadêmicas e de um certo servilismo a fórmulas européias (ou europeizantes). Ao fazê-lo, introduziu o som na prosa -antes e melhor do que qualquer outro romancista de sua geração”.
Além das particularidades narrativas, os integrantes do movimento faziam questão de levar uma vida condizente com o ritmo de seus relatos. A distribuidora Magnus Opus oferece uma boa oportunidade para conferir esse aspecto biográfico nos documentários recém-lançados “Kerouac - O Rei dos Beats”, dirigido por John Antonelli em 1984, e “William Burroughs, Poeta do Submundo” (1991), do diretor Klaus Maeck.
O primeiro é um registro da vida do escritor norte-americano Jack Kerouac, desde sua infância em Lowell até a sua morte, noticiada em 1969 por um telejornal da época. A seqüência dos fatos é dramatizada pelo ator Jack Coulter, no papel do escritor, e intercalada pela leitura de trechos de seus livros. Muito do que aparece na tela serve menos para desmistificá-lo e mais para manter certo glamour em suas atitudes.
Vários depoimentos de amigos íntimos (Lawrence Ferlinghetti, Armand Morissette) e amantes de Kerouac são combinados com declarações do próprio escritor numa entrevista rara de 1968, no programa televisivo de William Buckley. O amigo e agente literário Allen Ginsberg conta no documentário que, por ocasião desse encontro, Kerouac, acatando sugestão de Burroughs, resolveu alugar um quarto em Nova York, onde ficaram também sua irmã e o cunhado. Ginsberg resolveu acompanhá-lo até o estúdio onde seria gravada a entrevista. Momentos antes, Kerouac avistou uma bebida encostada no canto do camarim. Quando foi o momento de aparecer no palco, Ginsberg conta que o amigo “foi para o programa embriagado, todo caipira e com barriga de cerveja”. A fala pastosa e o rosto inchado de Kerouac revelam o estado alterado em que concedera a entrevista.
O outro documentário, dedicado a William Burroughs, tem formato parecido, mas não prioriza tanto a cronologia de sua vida. Expõe mais suas idéias e suas experiências literárias. Exibe o próprio autor realizando leitura de suas obras no teatro Filmkunst, em 1986, além de trechos de uma entrevista ao escritor Jürgen Ploog. Ao ser questionado sobre a desordem narrativa estabelecida em seus livros, Burroughs afirma que “é muito difícil para qualquer um parar a fluência das palavras”.
Ambos os filmes servem como ponto de partida para se mergulhar no universo intrincado e despudorado dos escritores beats: o uso de drogas lícitas e ilícitas, o consumo desenfreado de bebidas alcoólicas, as experiências sexuais, o comportamento incontido dos personagens, a convivência à margem da sociedade e uma necessidade voluptuosa de registrar no papel sua própria devassidão.
Kerouac e a enxurrada de palavras
Jack Kerouac escreveu sua obra-prima “On The Road”, livro que seria consagrado mais tarde como a “bíblia hippie”, em apenas três semanas. O fôlego narrativo alucinante do escritor impressionou bastante seus editores. Jack usava uma máquina de escrever e um rolo de papel de telex para não ter de trocar de folha a todo o momento. Redigia de forma ininterrupta, invariavelmente sem a preocupação de cadenciar o fluxo de palavras com pontuação e parágrafos.
O material bruto que chegou às mãos de Malcom Cowley, da editora Viking Press, em 1957, deu trabalho. Os rolos quilométricos de texto tiveram de ser revisados, foram inseridos pontos e vírgulas e praticamente 120 páginas do original foram eliminadas. O estilo-avalanche de Jack tinha ainda um elemento intensificador. Ele trabalhou em cima do livro sob o efeito de benzedrina, uma droga estimulante.
“Começamos a experimentar benzedrina e anestésicos. Eu pensava que não poderia escrever porque minha mente ficava confusa, mas Jack sentia que podia escrever romances usando isso. E acho que alguns dos seus romances do início dos anos 50 foram escritos sob efeito desses e outros tóxicos. Jack praticamente se sentava e datilografava por várias semanas, fazia correções, escrevia continuamente 5, 6 ou 7 horas por dia, às vezes até o dia inteiro”, diz o amigo Allen Ginsberg.
Jack Kerouac era de origem franco-canadense. Nasceu no dia 12 de março de 1922, em Lowell, no estado americano de Massachusetts. Na infância, freqüentou um colégio jesuíta e ajudou o pai na fábrica de impressão. Um de seus traumas mais trágicos, que voltaria relatado em seus romances, foi à morte de seu irmão Gerard quando ele tinha apenas nove anos.
Devido às dificuldades econômicas por que passava a família, Jack resolveu fazer parte do time de futebol americano do colégio para tentar uma bolsa de estudo na faculdade. E conseguiu. Mudou-se com os pais para Nova York e iniciou um curso na Universidade de Columbia. Antes de pegar o diploma, abandonou os estudos e resolveu alistar-se na Marinha.
Foi a época em que Jack conheceu os grandes amigos que formariam, alguns anos mais tarde, o pelotão de frente da geração beat. Para desgosto da mãe, perambulava pelas ruas de Nova York com o poeta Allen Ginsberg, conheceu também William Burroughs, chamado de Bill pelos camaradas, além de seu maior companheiro de viagens, Neal Cassady, o “Cowboy”.
A relação do escritor com Neal foi determinante para despertar em Jack sua vontade reprimida de botar o pé na estrada e desfrutar de uma liberdade ainda não experimentada. Os dois viajaram por sete anos percorrendo a rota 66, que cruza os EUA na direção leste-oeste, com descidas freqüentes ao México. Saíram de Nova York e cruzaram o país em direção a São Francisco. Dessa jornada saiu o livro “On the Road”, cujo protagonista é Dean Moriarty, o nome criado por Jack para representar o amigo Neal.
“Jack sempre foi muito tímido, ainda que parecesse durão, era doce, sensível, passional. Neal era mais espontâneo, machão sem fazer esforço, mas também se interessava muito pelas palavras. Ele esperava Jack ensiná-lo a ser do seu jeito. Eles eram opostos e muita gente pensava que se pareciam. Neal era rude, Jack era mais introvertido e gostaria de ter a mesma iniciativa com as mulheres. Ele gostava de ver Neal fazer isso”, diz a novelista e mulher de Neal, Carolyn Cassady.
O sucesso e o prestígio conquistados após a publicação de “On the Road”, em 1957, deixaram Jack atormentado. Apesar de eventuais críticas positivas que realçavam o caráter inovador da obra, muitos criticos o tacharam de subliterato e imoral. A primeira resenha escrita por Gilbert Millstein no jornal The New York Times foi satisfatória. Ele recorda no documentário “O Rei dos Beats” qual foi sua sensação ao ler o livro.
“Eu li o livro e fiquei simplesmente estupefato. Eu disse ali que acreditava naquilo como a expressão perfeita de uma geração, assim como Hemingway em ‘The Sun Also Rises’ também foi uma expressão da sua geração naquela época”. O efeito imediato da fama causou apreensão e relutância em Jack. Joyce Johnson, a jovem namorada com quem o escritor morava na época, relembra a reação dele diante da celebração instantânea. “Ele estava agitado e com medo. Ele também sentia que teria de viver para sua imagem pública, pois todos esperariam que ele fosse como Dean Moriarty ou Neal Cassady, mas ele era só Jack Kerouac. Era bastante tímido, preferia ficar num canto olhando, refletindo”.
Logo após a publicação, Jack trabalhou intensamente em outros projetos. “The Dharma Bums”, lançado em 1958, foi à tentativa do escritor de estabelecer afinidades com o budismo. É o relato de uma escalada com o amigo poeta Gary Snyder em busca de realizações espirituais.
Nesta mesma época, Jack resolveu se isolar do convívio humano. Subiu até o alto de uma colina e passou longo dia sozinho confinado em uma cabana sem eletricidade e sem vidros nas janelas. Tomava quase uma garrafa de bebida por dia e sofreu com alucinações e paranóias. A experiência foi registrada no livro “Big Sur”, de 1962. O problema do alcoolismo piorou com o tempo, e Jack foi morar com a mãe. O vigor deu lugar ao cansaço, e o escritor resignou-se a uma vida ordinária.
Em 21 de outubro de 1969, Jack Kerouac morreu de hemorragia, quando tinha 47 anos, no hospital em St. Petesburg, na Flórida. O amigo e agente literário Allen Ginsberg reverencia seu talento: “Eu não conheço outro escritor que teve influência tão produtiva quanto Kerouac, que abriu o coração como escritor para contar o máximo dos segredos da sua própria mente”.
BURROUGHS E A CONSCIÊNCIA EM EXPANSÃO
William Seward Burroughs mergulhou fundo nas experiências com narcóticos e tirou de lá uma percepção inusitada do mundo com a qual abasteceu suas histórias sobre doentes terminais, homossexuais, traficantes e criaturas asquerosas. Pagou caro por isso. Teve passagem por clínicas de reabilitação e sobreviveu sob severos tratamentos.
De família tradicional, Bill, como era conhecido pelos amigos, nasceu em 1914, na cidade de Saint Louis, no estado americano de Missouri. Foi neto de um famoso inventor de máquinas de calcular. Formou-se em artes na Universidade de Harvard, em 1936. Durante este período, o escritor aproveitou para circular pelos clubes e becos underground de Nova York. Após o término da faculdade, Bill viajou para a Europa às custas de mesadas concedidas pelos pais.
Chegou a estudar medicina em Veneza, na Itália. De passagem por Viena, Burroughs conheceu Ilse Klapper, uma jovem judia, com quem o escritor se casou, e viajou de volta para os EUA. Em 1951, um acontecimento trágico envolvendo sua segunda esposa afetou-o diretamente e despertou-lhe o desejo de escrever. Durante uma estadia no México, Bill pediu para que Joan Vollmer, sua mulher, equilibrasse um copo sobre a cabeça. Depois pegou um revólver e ajustou a mira. O disparo que seria para estilhaçar o copo acertou em cheio o rosto de Joan.
Bill passou 13 dias preso e foi libertado sob a alegação de que o caso fora acidental. Ainda no México, Burroughs começou a escrever seu primeiro livro, “Junky”, e deixou uma série de manuscritos incompletos referentes a um estudo sobre homossexualidade. Em 1953, fez uma excursão de seis meses pela América do Sul para estudar uma substância vegetal alucinógena chamada ayahuasca, usada em cultos de povos nativos. Mais tarde escreveria o livro “Yage” sobre essa experiência.
Sua principal obra, “Almoço Nu”, foi construída de forma desordenada durante nove anos de viagem do autor por diversos continentes. Na nota de introdução à edição mais recente da obra, os editores Barry Miles e James Grauerholz comentam: “Burroughs debatia-se de forma inclemente com a ‘forma’ de seu romance, mas como a cada dia escrevia mais e tomava novos rumos, acabou perdendo a capacidade de gerenciar o caos de páginas datilografadas e escritas à mão que se acumulavam em seu quarto com jardim no Hotel Muniriya, de Tânger”.
Na maior parte do tempo, Burroughs confinou-se num quartinho em Tânger, no Marrocos, a fim de concentrar esforços para botar um ponto final na sua obra. Diariamente, usava drogas sintéticas injetáveis e substâncias derivadas do ópio. Seu grau de dependência e consumo aumentou até chegar no limite de debilitação do corpo em 1956, quando o escritor viajou a Londres em busca de ajuda. Na capital inglesa, o escritor ficou internado sob medicação de apomorfina, receitada pelo doutor John Dent, numa tentativa de reabilitá-lo. O próprio autor faz um depoimento acerca do tratamento, em um dos apêndices que acompanham a versão definitiva de “Almoço Nu”. “Encontrei essa vacina quando estava no fundo do poço da ‘junk’ (termo genérico para designar o ópio e seus derivados). Vivia em um quarto no bairro Nativo de Tânger. Não tomava banho havia um ano nem trocava ou tirava as roupas para nada a não ser para enfiar uma agulha na carne fibrosa, desbotada e rígida da dependência terminal, coisa que fazia de hora em hora”, escreveu.
Após o tratamento com apomorfina, Burroughs deixou a clínica e passou dois anos afastados das drogas. Ajudado por Allen Ginsberg, Alan Ansen e Peter Orlovsky - reunidos em Tânger- houve uma cooperação de todos para revisar o numeroso material bruto e organizar os capítulos. O teor das páginas escritas variava desde experiências sexuais e orgias, extensos estudos sobre tipos de narcóticos, revelações sobre o tráfico de entorpecentes e relatos de sonhos repletos de criaturas fantásticas.
Tudo sem depender exclusivamente de uma linha de raciocínio lógica, algo elaborado como uma emancipação livre do fluxo de consciência. Após ser rejeitado pelo editor Lawrence Ferlinghetti, da City Lights Books, editora de San Francisco especializada em publicações independentes, “Almoço Nu” foi publicado pela editora francesa Olympia Press, em 1959, e saiu nas livrarias dos EUA dois anos depois, numa reedição da Grove Press.
Burroughs tornou-se rapidamente um símbolo da contracultura e continuou espalhando suas idéias libertárias. Seus livros seguintes –com destaque para “Nova Express” (1963)- adotaram uma fórmula testada no seu romance anterior: o método “cut-up”. Uma narrativa que consiste em justapor palavras e imagens de outros contextos (muitas vezes apropriando-se de textos de outros autores) a fim de criar uma nova combinação informativa.
Até a sua morte, em 1997, na cidade de Kansas, Burroughs colaborou de forma atuante com diversos artistas. Fez uma ponta como um clérigo viciado em drogas no filme “Drugstore Cowboy” (1989), do diretor americano Gus Van Sant, auxiliou o cineasta canadense David Cronenberg na adaptação para as telas do seu romance “Almoço Nu” e chegou a fazer uma participação especial na gravação de uma canção do grupo grunge Nirvana.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Stonehenge


Os povos saxões o chamavam de Hanging Stones (Pedras Suspensas), escritos medievais chamavam de Dança dos Gigantes. Estas são denominações diferentes para referir-se ao mesmo monumento, hoje conhecido como Stonehenge (do inglês arcaico Stan = pedra + hencg = eixo).
Stonehenge é um complexo monolítico, formado por círculos concêntricos de pedras que chegam a ter cinco metros de altura e pesar quase cinqüenta toneladas, situado na planície de Salisbury, sul da Inglaterra, a cerca de 130 quilômetros de Londres. Os responsáveis por sua construção, os métodos utilizados e sua finalidade, mantêm-se, ainda nos tempos atuais, como um grande enigma.
Originalmente, o monumento era um círculo externo que media 86 metros de diâmetro. O círculo interno, com pedras maiores, de 5 metros de altura, contava 30 metros em seu diâmetro. Possuía 30 blocos verticais sobre os quais coloca- ram-se 30 blocos horizontais, formando um ininterrupto anel de pedra. Ainda mais alto, são os cinco portais que formam a ferradura externa, com cerca de nove metros de altura e perto de 15 toneladas. Ainda, existia uma avenida de acesso principal onde situavam-se os portais de pedra. Havia também do lado externo do círculo maior, uma série de cavidades no solo que circundavam o monumento. Estas cavidades estavam destinadas a um outro círculo de pedras, que nunca seria construído.
Ao analisar as pedras utilizadas, percebe-se que foram minuciosamente cortadas para que uma se encaixasse sobre a outra, formando os chamados trilitos. Embora já estejam bastante apagadas devido à ação do tempo, diversas pedras trazem desenhos ou inscrições rupestres feitas pelas antigas civilizações.
A construção de Stonehenge
No século XX, arqueólogos, através da técnica de datação do Carbono 14, estabeleceram que a construção de Stonehenge teve início em torno de 2950 a.C. e encerrou-se em aproximada- mente 1600 a.C.. Portanto, as primeiras pedras erguidas nesta obra sustentam-se há mais de 5000 anos.
Se a construção de Stonehenge se estendeu por mais de 13 séculos e técnicas diferentes foram utilizadas para erguer o monumento, considera-se que vários povos habitaram o local neste período. Assim, não apenas uma, mas algumas culturas que habitaram a região atuaram em sua construção.
Não há referências seguras sobre quais povos participaram desse trabalho. Mas há evidências arqueológicas de que há cerca de 10 mil anos, naquela região, já havia presença humana. No século XVIII, William Stukeley, astrólogo e membro da maçonaria, argumentava que era um templo construído pelos druidas, sacerdotes do povo celta. Mas os celtas estabilizaram-se cerca de 1000 anos após a conclusão do monumento. Portanto, esta possibilidade é descartada e conclui-se que Stonehenge teria sido obra de povos anteriores aos celtas.
Recentemente, em 2003, operários que instalavam tubulações em Boscombe, área próxima ao sítio histórico de Stonehenge, encontraram uma tumba coletiva com sete corpos (três crianças, um adolescente e três homens). Ao lado dos esqueletos, havia pontas de flecha e potes de barro datados de 2300 a.C., época da construção de Stonehenge. Ao analisar as camadas de esmalte dos dentes dos esqueletos, pesquisadores descobriram traços da composição da água encontrada na região de Wales, local de origem das pedras centrais de Stonehenge. Essa evidência levou à conclusão que os Arqueiros de Boscombe (como foram apelidados) provavelmente, ajudaram a erguer as pedras do monumento.
Merlim e os gigantes
O escritor e clérigo inglês Geoffrey de Monmouth, em sua obra Dança dos Gigantes (1130), narra que Uther Pendragon, pai do lendário Arthur, por volta do século V, após uma traição de Heingist liderando os saxões a um massacre de 460 nobres britânicos numa conferência de paz, decidiu elevar um monumento em memória dos guerreiros mortos. Assim, Pendragon convocou Merlim e o mago sugeriu a busca de antiqüíssimas pedras gigantescas que formavam um círculo mágico, capaz de curar todas as enfermidades, construído por gigantes na Irlanda.
Os gigantes, que eram pacíficos e infantis e tinham longa vida, haviam criado os círculos de pedra para saudar a natureza e para brincar, provocando assim uma certa disputa para ver quem construía um número maior de círculos (esta seria a origem dos inúmeros círculos distribuídos por toda Europa até hoje). Segundo Merlim, esta raça extinta de gigantes havia transportado essas pedras mágicas da África para a Irlanda. A água que fosse derramada sobre as pedras mágicas adquiria poderes curativos. Dessa forma, os gigantes tratavam seus ferimentos com preparados de ervas combinadas à água mágica.
Pendragon e seu irmão Ambrosius convocaram um exército de 15 mil homens a fim de transportar as pedras. Mas todas as tentativas fracassaram. Foi então que Merlim, valendo-se de poderes mágicos, transportou-as até os barcos que as trouxeram até Salisbury, na Inglaterra. Merlim dispôs as pedras ao redor das sepulturas, da mesma forma que os antigos gigantes. Segundo a lenda, ainda hoje encontram-se as inscrições dos túmulos de Uther e Aurelius
Atkinson e os arqueólogos
Em 1950, Richard Atkinson e outros arqueólogos britânicos, elaboraram a teoria sobre o processo de construção de Stonehenge, que teria sido realizado em três etapas. Outras teses apontam para quatro etapas entre 3100 a.C e 1100 a.C.. Mas o raciocínio de Atkinson ainda é o mais aceito no meio científico.
Assim, na primeira etapa, no final do período neolítico, foi construída uma planície que forma o círculo externo, do qual se dispunham cinqüenta e seis cavidades conhecidas como Aubrey Holes, formando um anel. A primeira pedra, posicionada na vertical, conhecida como Heel Stone, foi disposta do lado de fora do círculo, frente à única entrada do monumento. Ainda, foram dispostas outras quatro pedras conhecidas como Pedras de estação.
A segunda etapa teve início aproximadamente duzentos anos mais tarde, já na Idade do Bronze. Neste processo, ocorreu a construção do duplo círculo interior, formado por oitenta blocos de pedra (conhecidos como bluestone) trazidos das montanhas de Prescelly, sul do País de Gales, a 320 km de Stonehenge.
Acredita-se que as pedras foram transportadas por embarcações através da costa gaulesa e posteriormente, em terra firme, levadas sobre cilindros até o local do templo. Estas pedras foram posicionadas na vertical, no interior do círculo primário. Além disso, foi construída também a avenida que leva ao monumento de Stonehenge e à margem externa das planícies.
Na terceira e última etapa, iniciada em torno de 2550 e estendendo-se até 1600, os dois círculos internos compostos pelas pedras foram desfeitos e reconstruídos. Nesse momento também foram posicionadas as pedras transversais que se apóiam sobre as pedras eretas. Ainda, o bloco conhecido como Pedra do Altar foi posicionado em frente a um dos trilitos
Stonehenge: ciência e espiritualidade ancestrais
Além dos povos responsáveis pela cons- trução, o período cronológico e as técnicas utilizadas para erguê-lo, as incertezas sobre o monumento de Stonehenge também estão presentes quando aborda-se sua finalidade. A região de Wiltshire é rica em ruínas pré-históricas. Woodehenge, Durrington Walls e mais de 350 sepulturas são provas da atividade dos antigos habitantes locais. Ao redor do monumento principal, existem outras obras intrigantes. Afastado de Stonehenge, 800 metros ao norte encontra-se o chamado Cursum, uma pista reta com 2800 metros de comprimento e 90 metros de largura, que seria utilizada em procissões e cerimônias religiosas.
Ainda na região de Stonehenge encontra-se os Círculos ingleses, que são desenhos circulares surgidos misteriosamente em campos de cultivo de soja, trigo, cevada e milho. Interessante é que os cereais cultivados dentro dos círculos, tendem a desenvolver-se 40% mais que outros mais afastados. Este fato leva a crer que esta região possui algum tipo de energia natural e que os antigos tinham conhecimento disto. Por isso optaram por construir Stonehenge, que seria um templo religioso, naquele local, e assim intensificar e absorver esta energia.
Mesmo havendo um vasto sítio de pedras na região, os monólitos utilizados foram trazidos de muitos quilômetros de distância. Isto leva a crer que essas pedras eram essenciais para a perfeita conclusão do trabalho e reforça o conceito de que Stonehenge tenha uma finalidade religiosa. Pois estas pedras, trazidas de tão longe, teriam um caráter sagrado e ritualístico para os povos antigos.
Vestígios de corpos cremados encontrados nas Aubrey Holes indicam que ali foram celebrados ritos funerários e que estas cavidades podem ter simbolizado um portal para outros mundos. O esotérico John Michell sugere que se trata de um templo cósmico dedicado aos doze deuses zodiacais.
Em sua obra História dos Hiperbóreos, de 350 a.C., o grego Hecateu de Abdera atribui uma finalidade ao monumento: "ergue-se um templo notável, de forma circular, dedicado a Apolo, Deus do Sol". O arquiteto inglês do século XVII, Inigo Jones, fez o primeiro estudo sério sobre Stonehenge e considerou-o um templo romano. Se Stonehenge é obra de várias culturas, pode-se supor que suas finalidades também sejam diversificadas.
A perfeição geométrica faz supor que este trabalho tenha sido realizado por inteligências superiores extraterrenas, e que funcionasse como um campo de pouso para discos voadores ou apenas uma referência para navegação interplanetária. Porém, obviamente, esta é uma tese não científica que fica limitada a alguns grupos de ufologia.
Ainda, pode-se analisar Stonehenge sobre a ótica da arqueoastronomia, ciência que tem por objetivo estudar os conhecimentos astronômicos dos povos antigos. Desse modo, o astrônomo americano Gerald Hawkins, estabeleceu diversas relações geométricas entre o posicionamento das pedras do monumento. Stonehenge seria um observatório pré-histórico cujo alinhamento das pedras produz um traçado de linhas que marcam o nascer e pôr do Sol em datas chaves como os solstícios. Os movimentos do Sol, da Lua e das estrelas, podiam ser seguidos, os eclipses podiam ser previstos e os deuses do Zodíaco adorados no tempo próprio. Assim, Stonehenge não teria apenas uma finalidade religiosa, mas também, em parte, científica.
No século XX, Stonehenge abrigou celebrações de neopagãos. A partir de 1918, o local passou a ser recuperado. Algumas pedras que, devido ao tempo, estavam inclinadas e prestes a tombarem, foram reposicionadas. Em 1985, as autoridades inglesas, a fim de preservar o monumento e a região, proibiram os festivais neopagãos. Atualmente, o local é administrado pelo English Heritage e foram tomadas medidas rigorosas para garantir sua preservação. O número de visitantes é de cerca de 700 mil por ano.
Independentemente de sua finalidade, o monumento de Stonehenge é mais que um ponto turístico; é uma obra que desafia os pesquisadores modernos e excita a imaginação de cada visitante. Certamente, o fascínio exercido pelo monumento não está apenas em sua grandeza e imponência desproporcionais ao pensamento contemporâneo, mas principalmente, nos mistérios que cada pedra guarda, há mais de 5 mil anos.
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